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Causa animal

Cães da enchente aguardam adoção e prefeitura planeja novo Censo Pet em Porto Alegre

Abrigos licenciados ainda têm 352 animais; ONG cuida de outros 25

10/11/2025 - 14h44min


Zero Hora
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Brenda Paranhos/Arquivo Pessoal
Lobo e Loba primeiros cães que a ONG Caramelo resgatou.

Esta reportagem foi produzida por Brenda Pereira Paranhos, aluna de Jornalismo na UFPel e uma dos cinco vencedoras da edição 2025 do projeto Primeira Pauta RBS

Os cães de rua estão espalhados por todos os cantos de Porto Alegre. O último Censo Animal, realizado em 2023, estimou cerca de 20 mil animais vivendo nessas condições. O dado não foi atualizado após a enchente de 2024, mas a prefeitura quer realizar um novo Censo Pet para compreender o impacto na vida desses animais.

Durante a calamidade de 2024, o Gabinete da Causa Animal (GCA) de Porto Alegre, junto de forças de segurança e voluntários, registrou o resgate de cerca de 4,8 mil animais em áreas alagadas, incluindo aqueles separados de seus donos. Atualmente, o órgão conta com uma unidade móvel de saúde animal, feiras de adoção e castrações gratuitas oferecidas a pessoas de baixa renda e protetores registrados.

Entre janeiro e agosto deste ano, foram realizados 64,5 mil atendimentos para a saúde animal. Até setembro, a rede municipal abrigava 361 animais, sendo 321 cães. No mesmo período, 120 adoções foram realizadas por meio do programa Me Adota, desenvolvido pela prefeitura por meio da Unidade de Saúde Animal Victoria (USAV), na zona leste da Capital. 

Mesmo com essas iniciativas, ainda há inúmeros cachorros em vulnerabilidade na cidade. A secretária do GCA, Tatiana Amaral Guerra, diz que um novo levantamento será feito no ano que vem.

— Sem esses números, não temos como dizer quantos cães ainda habitam as ruas de Porto Alegre. Recentemente, tivemos uma visita na Câmara de Vereadores bem produtiva, onde conseguimos uma emenda parlamentar de R$ 300 mil para realização do novo censo pet — relata.

O município mantém quatro abrigos licenciados, que têm 352 animais resgatados na enchente. Segundo a secretária, no entanto, essa nem sempre é a melhor opção.

— O ambiente pode ser estressante, e o animal acaba convivendo com dezenas de outros. Quando encontramos um cão de rua, tratamos, castramos e o transformamos em cão comunitário, mantendo-o no local — diz a secretária.

Muitos acreditam que o abrigo é a solução, mas nem sempre é o ideal

TATIANA AMARAL GUERRA

Secretária do Gabinete da Causa animal.


Pós-enchente em abrigos

As dificuldades provocadas pela calamidade de 2024 ainda transparecem no acolhimento dos cães de rua. Um desses exemplos é a ONG Caramelos do Vale, que surgiu em 2022, quando a aluna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Amanda Lost Camacho recolheu dois cães que apareceram no Campus do Vale. Atualmente, o abrigo está localizado na Estrada da Divisa, em Itapuã, Viamão, na Região Metropolitana.

A técnica em educação na UFRGS e voluntária da instituição, Aline Corte, conta que os principais problemas da enchente ainda são sentidos. Ela cita a superlotação, falta de baía para os cães, escassez de ração e remédios como vermífugos e antipulgas e, principalmente, a queda nas adoções de animais.

— Ainda temos muitos cães da enchente, que ainda não conseguiram um lar. É difícil mantê-los, tudo que recebemos vem principalmente de doações, que cada vez diminuem mais. Às vezes não sabemos se vamos chegar ao fim do mês — lamenta.

A ONG já encaminhou mais de 240 adoções. Hoje cuida de 25 cães, mas na época da enchente esse número chegou a 93.

Além das doações recebidas, os voluntários realizam periodicamente vendas de produtos da marca e outras atividades para arrecadação de fundos.

— Vendemos camisas, xícaras, adesivos, entre outros. Já tivemos brechó e fazemos um café colonial duas a três vezes por mês no Campus do Vale. Também recebemos contribuições em livros e fazemos até feira do livro. Sempre escolhemos um cão para ser patrono. Ano passado foi a Loba, nesse será o Sid — conta Aline.

Abandono e adoção responsável

Segundo o Anuário Pet 2024, do Instituto Pet Brasil (IPB), o país tem 4,8 milhões de animais (cães e gatos) em vulnerabilidade. Esse número refere-se apenas aos que vivem nas ruas ou sob a guarda de pessoas abaixo da linha da pobreza, não incluindo animais em abrigos.

É válido lembrar que o abandono é crime, conforme a Lei Federal nº. 9605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais).

A adoção responsável surge como uma forma de mudar essa realidade. Mas conforme Aline, muitos cães que são adotados acabam voltando para o abrigo:

— Hoje em dia muitos pensam que ter um cão é apenas alimentar, mas não. Assim como nós, eles precisam de todo um suporte, como vacinação, castração, um lar. Mesmo fazendo questionários para encontrar bons tutores, muitos acabam voltando para cá.

Enquanto as ONGs enfrentam diariamente as consequências do abandono e da devolução, a prefeitura da Capital incentiva a adoção responsável com um programa de atendimento vitalício gratuito aos animais adotados nos abrigos municipais. A ideia é oferecer acompanhamento veterinário e um plano básico de saúde para os tutores, reduzindo os custos a longo prazo.

— Às vezes, a pessoa fica meio balançada a adotar, mas quando a gente diz que o animal vai ganhar um atendimento vitalício, a família se disponibiliza — finaliza Tatiana Amaral Guerra.

Como ajudar

Caramelos do Vale

A ONG conta com uma plataforma pela qual recebe doações mensais, além de ter canal de contribuições via Pix para despesas com tratamento veterinário, exames, vacinas, castração e outros cuidados essenciais. Para mais informações clique aqui.

Gabinete da Causa animal (GCA)

A prefeitura conta com um fundo municipal que recebe doações destinadas exclusivamente ao apoio financeiro de ações voltadas ao bem estar animal. Para mais informações clique aqui.


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