O movimento internacional denominado Novembro Azul se tornou uma campanha com foco na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. Ao longo de todo o mês, são promovidas ações sobre a importância dos cuidados, incluindo exames preventivos.

De acordo com dados do Painel de Monitoramento de Mortalidade, do Ministério da Saúde, o número de mortes por câncer de próstata vem aumentando anualmente. 

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta para a importância do diagnóstico precoce e destaca que a prevenção pode salvar mais de 90% dos pacientes com a doença. Mesmo sendo o tipo de câncer mais incidente entre homens, por ser na próstata, ainda carrega tabus e desinformação. 

Para explicar as causas, sintomas e prevenção, a coluna Tua Saúde conversou com a coordenadora das campanhas de conscientização da Sociedade Brasileira de Urologia e diretora clínica do Hospital Moinhos de Vento, Karin Jaeger Anzolch.

O que é?

A especialista contextualiza que a próstata é uma glândula com formato semelhante a uma noz. Ela está localizada abaixo da bexiga. A uretra é o canal que liga a bexiga ao exterior, e é “abraçada pela próstata”. Karin explica que a glândula produz líquidos importantes para a nutrição do espermatozoide, compondo cerca de um quinto do volume total do sêmen. 

 Se origina de células próprias da glândula, que se multiplicam e se diferenciam da célula original:

– Quanto mais diferentes as células forem da célula original, mais agressivo é o tumor.

Alguns fatores de risco

/// Envelhecimento

/// Histórico familiar da doença (pai, avô ou irmão)

/// Obesidade 

/// Homens negros: sendo a população com risco duas vezes maior de desenvolver tumor e com mortalidade mais alta. 

Quando questionada sobre as formas de manifestação da doença, Karin destaca que, na maior parte das vezes, o câncer pode evoluir de forma silenciosa nas fases iniciais. Não é recomendado que os pacientes esperem pelos sintomas para procurar um especialista. Caso os sintomas já consigam ser observados, pode ser uma indicação de que a doença está em um estágio mais avançado.

Exames recomendados 

Karin reforça que, mesmo sem sintomas, manter consultas regulares permite diagnosticar o câncer e outras condições urológicas. A SBU recomenda que homens acima de 50 anos façam os exames anualmente. Os homens com fatores genéticos e comorbidades devem realizar o rastreamento mais cedo, por volta dos 40 anos. Os exames recomendados por especialistas são:

 /// O toque retal: é o exame mais próximo para apalpar a glândula através do reto. É indolor, rápido e dura poucos segundos. 

/// PSA (Antígeno prostático específico): exame de sangue da próstata que detecta alterações nos níveis da proteína produzida pela glândula.

Assunto ainda é tabu

A doutora Karin afirma que o exame de toque retal ainda é considerado um tabu para a maioria dos pacientes, e que alguns mitos circulam em torno do assunto. A desinformação em torno dos procedimentos auxilia a manter os homens resistentes em procurar um médico. 

Segundo a especialista, as barreiras psicológicas também são citadas. Entre os exemplos, a médica ressalta que muitos deles interpretam a doença como uma “fraqueza”. Há o medo de descobrir uma doença e um tabu associado à “perda da masculinidade”.

– Existe um grande constrangimento e vergonha. Alguns homens temem perder a masculinidade se fizerem o exame (toque retal). Ir ao urologista, no entanto, deve ser visto como um sinal de cuidado e responsabilidade consigo mesmo e com quem se ama, e não de fraqueza – descreve a médica.

Quando mencionado a barreira da escolha entre médicos homens ou mulheres para o atendimento, Karin pontua que a urologia é, atualmente, uma especialidade médica com o menor percentual de mulheres no Brasil, representando cerca de 3,5% dos mais de 6 mil urologistas. Contudo, ela destaca que essa tendência está mudando, pois novas gerações de mulheres têm buscado mais a especialidade. 

A profissional aponta que há alguns homens que possuem mais facilidade de consultar com médicas mulheres do que com homens. E vice-versa. A médica aconselha que os pacientes escolham o profissional que traga mais acolhimento e cuidado.

Segundo Karin, entender a prevenção como um “gesto de amor à vida” é essencial para incentivar homens que ainda evitam o exame de próstata. 

*Produção: Josyane Cardozo