Recomeço
Menos de um mês após perder tudo no incêndio da Praça XV, loja de calçados reabre em novo endereço: "Não tem como desistir"
Amorim Calçados retoma as atividades na Rua Otávio Rocha, no Centro Histórico


Menos de um mês após ver o ponto onde trabalhava virar escombros no incêndio dos casarões da Praça XV, no início de novembro, o comerciante Lizandro Krug voltou a abrir as portas neste sábado (29). A loja Amorim Calçados, que funcionava havia décadas no Centro Histórico, reabriu em um novo endereço, na Rua Otávio Rocha, número 54.
A reinauguração, celebrada por clientes antigos, mascotes infantis na calçada e até mesa de quitutes montada para receber os visitantes, foi resultado de uma mobilização que começou no dia seguinte à tragédia, segundo ele. Isso porque, da estrutura original, nada pôde ser salvo.
O novo espaço, alugado, estava vazio e em más condições após a enchente. Em pouco mais de duas semanas, foi pintado, reformado e preparado para receber um novo estoque:
— Foi correria total. Dois dias atrás não tinha lâmpada, não tinha prateleira, não tinha nada. A mercadoria chegou ontem. Passamos noites montando tudo — afirma.
Os expositores, painéis e boa parte dos materiais foram doados. O restante, conta Lizandro, foi feito na "base da força-tarefa".
Ajuda dos fornecedores
O recomeço, segundo ele, só foi possível porque fornecedores decidiram agir antes que a família tivesse condições financeiras de se reorganizar.
Representantes das marcas com as quais a loja trabalha apareceram ainda com o prédio queimado. Uma das fábricas, a Beira Rio, enviou caminhões de produtos e dedicou equipes para ajudar na montagem do novo ponto.
— Eles estavam conosco desde o outro dia de manhã, quando o prédio ainda pegava fogo. Não deram as costas. Investiram de novo, encheram a loja de mercadoria e ficaram aqui montando com a gente. Até o diretor veio ajudar — relata.
Outros representantes passaram a noite no local separando caixas, conferindo pares e instalando expositores. O apoio também veio de lojistas do Centro, que chegaram a oferecer pontos, dividir espaços e ajudar com materiais para que a loja não perdesse as vendas de fim de ano.
Clientes reencontraram a loja
Logo após a abertura, clientes antigos começaram a chegar, alguns sem saber que a loja havia reaberto, outros procurando o endereço novo.
— A gente abriu a loja às duas da tarde e já vieram clientes antigos, até perdidos procurando. No sábado, tinha gente que saiu para comprar e não sabia que a gente estava aqui. Hoje abrimos porque queríamos fazer uma coisinha legal pra todo mundo. Não é abrir mais uma loja. É abrir e dizer que estamos aqui — disse o comerciante.
A família, que há mais de 40 anos mantém o comércio no Centro, optou por um ponto próximo ao original justamente para preservar o vínculo construído ao longo das décadas.
— Muitos conhecidos do Centro apareceram. E foi legal ver vários clientes chegando. Teve cliente que disse: "Eu fui lá e só vi um buraco no prédio. Nem sabia que tinha pegado tanto". Isso aconteceu muito hoje — afirma Krug.
"Bola pra frente"
O recomeço trouxe alívio, mas ainda convive com a saudade da antiga loja, especialmente para a esposa do empresário, herdeira do negócio.
— Hoje falei com a minha esposa. Ela sentiu muito. Todo mundo dizendo que aqui vai ser bom, ótimo, mas não era o que era teu. Eu disse que a gente se sente bem aqui dentro, e ela me olhou e falou: "Eu preferia a minha loja". Mas acho que está fluindo coisa boa. Com o apoio dos amigos, dá pra fazer uma parada nova — afirma.
Com a nova unidade montada em "tempo recorde", a família pretende seguir no endereço e consolidar a reabertura nos próximos meses.
— Agora, é bola pra frente. É o que a gente sabe fazer: chamar o cliente para dentro. Com esse apoio todo, não tem como desistir — diz.