Tua Saúde
O que é Novembro Roxo? Entenda a importância da conscientização sobre partos prematuros
Partos que ocorrem antes de certo período de gestação podem acarretar problemas de saúde para a criança recém-nascida.


Em 17 de novembro foi comemorado o Dia Mundial da Prematuridade. Em Porto Alegre, um dia antes, no domingo, uma caminhada marcou a data. A bióloga Shana Letícia Wiest, 37 anos, vestia uma camiseta roxa, cor que marca a luta por conscientização sobre o tema. Ela carregava no colo seu filho, Francisco, de dois anos. Depois de tudo que passaram juntos, ela faz questão de contar sua história, principalmente para trazer esclarecimento a outras famílias.
— Nenhuma mãe é preparada para isso. A gente tem tantos sonhos, tantos planos e não se atenta a pensar nisso. Eu não lia sobre. Então, não era uma realidade palpável para mim. Tanto é que foi tão chocante quando eu me peguei internada no hospital e passei quatro meses lá. É um mundo totalmente diferente. Tu vais pegar o teu bebê dentro de uma incubadora no primeiro contato. Tu vais demorar para pegar ele no colo, tu vais dar de mamar no meio de um monte de outras intercorrências, de outros bebês. É tudo muito diferente — diz.
Em 2023, Shana Letícia levava uma gravidez tranquila quando, em uma ecografia morfológica, constatou que o bebê que carregava estava com uma obstrução no crescimento. Estava na 20ª semana de gestação – era cedo demais para isso acontecer. Ela também começou a ter picos de pressão alta.
— A gravidez tranquila foi transformada em uma gravidez de alto risco — aponta. — Fui afastada do trabalho e fiquei de repouso. Uma mudança completamente drástica — completa Shana.
Na hora do parto
Os exames e recorrentes internações já indicavam: seu filho seria prematuro. Para o Ministério da Saúde, enquadra-se nisso todo bebê que venha a nascer antes de 37 semanas de gravidez.
O parto, agendado para 5 de novembro de 2023, aconteceu em 13 de agosto. Após 28 semanas de uma gravidez conturbada, Shana deu à luz Francisco, com 510 gramas e pulmões ainda não completamente formados. Naquele ano, conforme o governo do RS, outras 1.250 crianças nasceram entre a 28ª e a 31ª semana de gestação. Esse é o período em que são consideradas “muito prematuras”, segundo a ONG Prematuridades. Os que nascem antes disso são considerados casos extremos e com chance menor de sobrevida fora do útero.
Complicações
Logo após nascer, Francisco teve uma parada cardiorrespiratória, que durou nove minutos. Ele ficou internado por 107 dias na Santa Casa de Porto Alegre, 90 deles na UTI. Lá, sofreu com doenças comuns da prematuridade, como enterocolite necrotizante, inflamação do intestino que pode levar à morte do tecido que reveste o órgão, e uma infecção causada por fungo; fez cirurgia para uma hérnia inguinal; e operou uma retinopatia da prematuridade, crescimento anormal de vasos da retina que pode levar à cegueira.
Causas
No caso de Shana Letícia, a causa do nascimento prematuro de Francisco foi a Síndrome de Hellp, sigla em inglês para os sintomas: destruição das hemácias, elevação das enzimas do fígado e queda no número de plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue. Essa é uma evolução da pré-eclâmpsia, um distúrbio que afeta cerca de 5% das mulheres grávidas, caracterizado por pressão alta e presença de proteína na urina.
A pré-eclâmpsia é uma das causas para partos prematuros, segundo a ONG Prematuridades, uma organização que promove conscientização a respeito do tema em todo o Brasil. Ela também aponta outras causas para o fenômeno:
/// Hipertensão crônica
/// Insuficiência istmo-cervical
/// Descolamento prematuro da placenta
/// Malformações e infecções uterinas
/// Gestação múltipla
/// Fertilização in vitro
A importância do pré-natal
No ano passado, dos 111,7 mil nascidos vivos no Estado, 14,5 mil eram prematuros, 13% do total — percentual que se mantém constante, mesmo com reduções do número total de nascimentos.
Para Shana, Francisco é um caso de sucesso, pois suas sequelas “não são nada perto do que poderiam ter sido, por ser um bebê que nasceu com parada cardiorrespiratória, e pelas milhares de intercorrências”. O filho tem 14 graus de miopia, peso abaixo da curva, faz terapia ocupacional – para lidar com introduções alimentares – e fisioterapia, e vai com frequência ao pediatra.
Já Shana, mesmo tendo corrido risco de hemorragia pela síndrome de Hellp, se recuperou em seguida. Ela atribui isso ao seu pré-natal rigoroso.
— O pré-natal me ajudou muito a descobrir, a investigar, a ver que tinha alguma coisa que não estava bem, porque eu fiz os exames todos em dia, então aquele exame apontou lá no início, umas 20 semanas, que ele não estava crescendo idealmente. Deu certo, no final, por causa desse suporte desde o pré-natal — aponta ela. — Que bom que cada vez mais há essa conscientização. O dia 17 de novembro é muito importante para as pessoas se darem conta de que isso pode acontecer, e de que elas não estão sozinhas. Quando tudo começou, eu procurava muito na internet. O que pode ser isso? O que pode causar isso? E era tudo muito novo.
*Produção: Breno Bauer