Notícias



Avenida Ipiranga

Por que tantos carros caem no Arroio Dilúvio? Veja o que especialista, EPTC e motoristas dizem

Levantamento de Zero Hora soma 67 acidentes durante 15 anos em uma das principais vias de Porto Alegre

03/11/2025 - 09h32min


Beatriz Coan
Beatriz Coan
Enviar E-mail
André Ávila/Agencia RBS
Média é de quatro acidentes por ano no Dilúvio.

Nos últimos 15 anos, Zero Hora registrou pelo menos 67 quedas de veículos no Arroio Dilúvio, que corta Porto Alegre de leste a oeste acompanhando o trajeto da Avenida Ipiranga. O número representa uma média superior a quatro acidentes por ano.

Foram ocorrências que terminaram com algum carro ou, até mesmo, caminhão dentro da água — e ao menos três mortes.

De acordo com os registros, as causas são diversas, mas a maioria tem relação com imprudência no trânsito. Algumas exceções são casos em que o motorista teve algum tipo de mal súbito, por exemplo.

Apesar do total de acidentes e da presença de alguns episódios no imaginário porto-alegrense, o motorista de aplicativo Rodrigo Fernandes Padilha, 48 anos, afirma que o percurso na Avenida Ipiranga não causa medo.

Eu não tenho receio nenhum. Acho que falta atenção um pouco. Se for colocar proteção, seria melhor, mas eu acho que depende muito do motorista — diz Padilha.

A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que tem notificações desse tipo de ocorrência desde 2019, soma 15 acidentes no período.

Somente em 2025, seis episódios foram noticiados por Zero Hora:

No levantamento de 15 anos, os 67 acidentes registrados aconteceram em praticamente toda a extensão da Avenida Ipiranga. Entre os pontos com mais casos, estão as imediações das vias:

  • Antônio de Carvalho: 7
  • Salvador França: 5
  • Lucas de Oliveira: 4
  • Ramiro Barcellos: 4
  • Múcio Teixeira: 3
  • Silva Só: 3
  • Vicente da Fontoura: 3
  • Cristiano Fischer: 3
  • Frei Germano: 3
  • Joaquim Porto Villanova: 3

A Avenida Ipiranga é tão perigosa assim?

Para Fernando Michel, professor do Laboratório de Sistemas de Transporte (Lastran) da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o problema não é a avenida.

— Não tem explicação técnica para essas quedas. É erro do motorista ou infração. Sinistros acontecem, se tivesse um muro no lugar, os carros bateriam no muro antes de cair. Então, o problema maior é a atenção do motorista — diz.

A explicação apresentada pelo professor é parecida com a opinião de alguns motoristas ouvidos por Zero Hora, como o técnico em telecomunicações Alisson de Ávila Aires, 43 anos.

— Eu acredito que seja mais imprudência ou, num caso em que vai ter que fazer uma manobra forçada para não bater, desviar de algum obstáculo na estrada, talvez possa acontecer isso. Mas aí vai ter que estar acima da velocidade, eu acredito nisso — comenta Aires.

Iam Tâmbara/Agência RBS
Caso mais recente foi de motorista que sofreu convulsão e caiu no arroio com sua BMW.

Em recente coluna publicada em GZH, o jornalista Humberto Trezzi lembrou que a via é uma das mais largas da capital gaúcha: "São quatro pistas de cada lado, em muitos pontos. Ou três faixas, nas partes mais estreitas".

Apesar de os números chamarem atenção, o diretor de Operações da EPTC, Carlos Pires, explica que eles são insignificantes quando comparados aos milhares de veículos que transitam por ano na avenida:

— Imagina quantos milhões de veículos passaram na Ipiranga este ano e vê o número de veículos que caíram ali.

Omar Freitas/Agencia RBS
Pistas da Ipiranga têm de três a quatro faixas na maioria dos trechos.

É necessário colocar uma barreira na Ipiranga?

Questionados, alguns motoristas de Porto Alegre relataram que não têm medo de dirigir próximo ao Arroio Dilúvio. Apesar disso, todos consideram que uma proteção extra traria mais segurança e evitaria boa parte dos incidentes.

— Eu estava indo com um passageiro, e um outro motorista foi fazer uma conversão e não deu pisca. Eu estava indo numa pista, no sentido centro-bairro, e ia entrar à esquerda. No desviar dele, eu subi no cordão, quase poderia ter caído. Acho que é mais devido à imprudência de todos no trânsito, que não cuidam. Mas também acho que deveria ter mais guard-rail — opina Alex Brasil, 49 anos, motorista de aplicativo.

Dos quase 20 quilômetros da Avenida Ipiranga, somando os dois lados do Dilúvio, cerca de seis quilômetros possuem algum tipo de proteção. Seja para separar as ciclovias, seja para proteger os postes de energia elétrica.

— Eu não tenho receio nenhum de dirigir na Ipiranga. Eu acho que, muitas vezes, é mais da imprudência do motorista mesmo, de utilizar celular enquanto está dirigindo, da distração que ocorre e, muitas vezes, por bebida, de realmente não estar apto a dirigir. Acho que toda a Ipiranga deveria ter essa proteção — comenta Jeane Santos, 48 anos, comerciária.

André Ávila/Agencia RBS
Parte da avenida é protegida com barreiras.

Apesar da opinião dos motoristas entrevistados, o diretor de Operações da EPTC afirma que o órgão não considera necessário colocar alguma proteção ao longo de toda a margem do arroio. Carlos Pires destaca que não será uma mureta que vai impedir esse tipo de acidente.

— Quando for analisar o que houve, foi velocidade, desrespeito à sinalização, celular, mal súbito e, alguns até mesmo, embriagados que caem ali. Essas coisas ocorrem e não é porque não tem grade. Não é o gradil que vai evitar isso — comenta o diretor.

Se as pessoas respeitarem o que a via diz e o que a via mostra, tenho certeza de que esses números, talvez, até zerem.

CARLOS PIRES

Diretor de Operações da EPTC

O jeito é fazer como uma das motoristas ouvidas por Zero Hora: prestar atenção e seguir as regras de trânsito.

— Eu acho que as pessoas estão muito displicentes, estão muito desatentas e também não estão seguindo as normas do trânsito. Eu sigo. Eu sou a "Mariazinha dos Passos Certos". Para eu cair, só se alguém fizer acontecer um acidente, mas é pouco provável — diz Graça Maciel, 58 anos.

Relembre alguns casos

"Chega de carro sem airbag"

Em 2010, primeiro ano dos registros da reportagem, aconteceu um dos casos mais marcantes.

No mês de junho daquele ano, o ator Werner Schünemann caiu no Dilúvio. Ele dirigia uma caminhonete e adormeceu ao volante na altura da Avenida Ipiranga. O teste do bafômetro deu negativo para a presença de álcool no organismo.

— Chega de carro sem airbag. Eu teria me machucado muito, mas não bati em nada, eu flutuava dentro do carro. Cinto de segurança é da época das carroças — disse o ator, logo após ser retirado do Dilúvio.

Quinze anos depois, no Timeline Gaúcha, Werner relembrou o episódio:

— Eu tinha um papel histórico para cumprir, que era proclamar a independência do Dilúvio — brincou.

Queda de caminhão

Em 2013, um caminhão caiu sobre um banco de areia no arroio. O veículo trafegava no sentido centro-bairro da Ipiranga, quando tombou próximo à esquina com a Silva Só.

O motorista afirmou que perdeu o controle do caminhão devido ao asfalto molhado. Ele não se feriu.

Tadeu Vilani/Agencia RBS
Até caminhão já caiu no Dilúvio.

Motorista sai nadando

Um carro caiu no arroio em abril de 2014. O acidente ocorreu por volta da meia-noite, na esquina com a Avenida da Azenha, mas a curiosidade foi a forma como o motorista deixou o local: nadando.

O homem não sofreu ferimentos. O comerciante relatou que teve a frente fechada por outro veículo, sendo obrigado a desviar para fora da pista.

Lucas Abati/Rádio Gaúcha
Condutor nadou para sair do arroio.

Perseguição policial e prisões

Dois homens foram presos pela Brigada Militar após caírem, com um carro furtado, no arroio. O caso aconteceu em 2018.

A dupla furtou o veículo na esquina das avenidas Oscar Pereira e Aparício Borges. Uma guarnição perseguiu os homens, que perderam o controle do automóvel e sofreram o acidente.

André Ávila/Agencia RBS
Carro havia sido furtado minutos antes de cair no Arroio Dilúvio.

Caminhão da companhia elétrica

Um caminhão com cesto para manutenção da rede elétrica, terceirizado da CEEE Equatorial, caiu no arroio em 2024. Os ocupantes foram retirados da água pelo Corpo de Bombeiros, sem ferimentos graves.

Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Caminhão de serviço também parou no meio do arroio.


Últimas Notícias