Apuração municipal
Sindicância aponta falha no atendimento de criança que morreu em centro de saúde de Nova Santa Rita em outubro
Prefeitura afirma que tomou medidas e que está concluindo licitação para contratação de nova empresa prestadora de serviços médicos para a cidade


A prefeitura de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana, concluiu a sindicância sobre a morte de Isabella da Silva, de um ano e sete meses. A criança estava internada na Policlínica 24h, gerida pela prefeitura, e acabou falecendo em 4 de outubro, após piora de um quadro clínico de pneumonia viral. Na época, a família da menina afirmou ter havido negligência no atendimento dela.
Conforme o documento divulgado nesta sexta-feira (21), houve "falha de conduta profissional" no último atendimento realizado à criança, quando Isabella estava na sala vermelha (área destinada a pacientes em estado crítico) da Policlínica, com a situação já agravada.
A prefeitura, no entanto, não detalhou quais seriam essas falhas, que teriam sido identificadas pela gestão municipal após análises técnicas, reconstrução da linha de atendimento e recolhimento de 25 depoimentos.
Medidas adotadas
Após a morte da menina Isabella, a prefeitura de Nova Santa Rita afirma que adotou medidas em relação à saúde da cidade. Entre elas, o afastamento preventivo de dois médicos que prestavam serviços por meio de uma empresa terceirizada. "Eles não retornarão a prestar serviços para o município", afirmou a assessoria da cidade.
Outra providência tomada foi a revisão e aprimoramento de protocolos de atendimento da saúde, além da implementação de novas rotinas de treinamento técnico com médicos e enfermeiros.
"Também está sendo concluída uma nova licitação para contratação de nova empresa prestadora de serviços médicos para a cidade", afirmou a prefeitura em nota.
A licitação, que já estava em andamento, passou a ser tratada como "prioridade" após a morte da menina Isabella, disse a prefeitura.
Por fim, a prefeitura diz que o relatório da sindicância foi entregue para a família da criança e para órgãos como Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), Polícia Civil, Conselho Regional de Medicina (Cremers) e Conselho Regional de Enfermagem do RS (Coren-RS).
Contatados, MP, Cremers e Coren-RS disseram que ainda não receberam o documento. Zero Hora fez contato com a Polícia Civil e aguarda a confirmação de qual delegacia está responsável pelo caso. O espaço está aberto para manifestações.
Relembre o caso
Isabella do Nascimento da Silva, um ano e sete meses, morreu em 4 de outubro, enquanto estava internada na Policlínica 24h, gerida pela prefeitura de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana.
A família da menina afirmou ter havido negligência no atendimento da criança. A morte fez a administração municipal abrir uma sindicância para investigar o caso. Na época, por nota, a prefeitura afirmou ter seguido todos os protocolos e realizado os exames necessários no atendimento.
Em 8 de outubro, Jair Antônio Rosa da Silva, pai de Isabella, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Canoas.
Linha do tempo
- Segundo o pai, a criança foi levada à Policlínica 24h no dia 1º de outubro, com falta de ar
- Como ela não melhorou, os pais levaram, no dia seguinte, a menina ao Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, mas como não havia encaminhamento de um órgão público para a internação, a criança não foi hospitalizada no local
- Depois, Isabella foi levada ao Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas, também na Capital, onde, segundo o pai, a equipe disse que a paciente estava com gripe e indicaram suspender o uso de um medicamento contra a inflamação na garganta. Também não foram feitos exames
- No mesmo dia, a família foi a uma clínica particular em Canoas, mas não conseguiram realizar exames por conta do fechamento do laboratório
- Por fim, a criança piorou e foi novamente conduzida à Policlínica 24h na sexta-feira, 3 de outubro
- A menina morreu no início da manhã de sábado, dia 4 de outubro, em um quadro clínico de pneumonia viral, conforme a declaração de óbito
Contrapontos
O que diz a prefeitura de Nova Santa Rita
"A Prefeitura de Nova Santa Rita torna público, na tarde desta sexta-feira (21), o relatório final da sindicância instaurada para apurar o falecimento da menina Isabella do Nascimento da Silva, ocorrido na Policlínica 24h no dia 4 de outubro de 2025.
O documento aponta indício de falha de conduta profissional no último atendimento realizado à Isabella quando estava na sala vermelha com a situação já agravada, identificado após análises técnicas, 25 depoimentos e reconstrução completa da linha de atendimento. Durante o processo de sindicância, alguns profissionais foram afastados preventivamente, e o Município comunicou formalmente o Ministério Público Estadual, a Polícia Civil e, agora, também encaminhará o relatório ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CREMERS) e Conselho Regional de Enfermagem (COREN-RS) para os procedimentos éticos e legais pertinentes.
No decorrer da sindicância, o prefeito Rodrigo Battistella garantiu a transparência total na apuração, nos moldes de uma administração que não teme a verdade. “Me compadeço profundamente da dor da família da pequena Isabella. Assim que soube do caso, determinei a abertura imediata da sindicância. Sempre exigi a verdade, doa a quem doer.”
A Prefeitura reforça que novas medidas já foram adotadas. Protocolos de atendimento foram revisados e aprimorados, e novas rotinas de treinamento técnico com médicos e enfermeiros foram realizadas, sempre com foco na segurança assistencial e na melhoria contínua da saúde pública. Também está sendo concluída uma nova licitação para contratação de nova empresa prestadora de serviços médicos para a cidade.
A administração seguirá sempre focada no aprimoramento deste importante instrumento de saúde que tem sido referência para diversas cidades da região metropolitana.
Nova Santa Rita reafirma seu compromisso com a verdade, com a vida e com a responsabilidade institucional, garantindo que o sistema municipal de saúde avance com mais qualificação, humanidade e segurança para toda a população."
O que diz a Secretaria da Saúde de Porto Alegre
"A Secretaria Municipal de Saúde informa que o Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas atendeu a paciente no início da madrugada do dia 3 de outubro. Todos os protocolos assistenciais foram seguidos conforme protocolos médicos. Em respeito à privacidade da paciente e à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), não serão divulgados outros detalhes sobre o caso."
O que diz o Ministério Público
Em resposta à Zero Hora, o MPRS disse que ainda não recebeu o documento do caso. Após o recebimento, devem analisar o fato.
O que diz o Cremers
Contatado, o Cremers afirma que a corregedoria da entidade ainda não recebeu o documento do caso. Disse ainda que abrirá uma sindicância para apurar o caso.
O que diz o Coren-RS
O Coren-RS informou que, até o momento, não recebeu o documento da sindicância. Porém, entrará em contato com a enfermeira responsável técnica do serviço de saúde para apurar mais informações sobre o caso.