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Intempérie

Antecipado por novo tipo de alerta da Defesa Civil, temporal derruba estátua e causa estragos na Região Metropolitana

Milhares de celulares tocaram minutos antes de rajadas de vento de até 96 km/h atingirem a região. Árvores caíram, ruas ficaram bloqueadas e moradores estão sem energia e água

16/12/2025 - 10h04min


Felipe Kroth
Felipe Kroth
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Bruno Todeschini/Agencia RBS
Ventania derrubou estátua em frente à loja Havan, em Guaíba.

Pouco antes das 15h30min desta segunda-feira (15) milhares de telefones emitiram sons e vibraram simultaneamente em Porto Alegre e arredores. Foi o primeiro uso real na Região Metropolitana de um sistema adotado pela Defesa Civil para alertar a população sobre situações de risco envolvendo eventos meteorológicos, como temporais.

A previsão já indicava possibilidade de chuva forte no Estado, e o aviso que chamou a atenção era bastante pontual: um alerta vermelho para vento acima de 90 km/h nos 60 minutos seguintes, na Região Metropolitana.

Em poucos minutos, já circulava nas redes sociais a imagem mais marcante de mais este temporal: a réplica da Estátua da Liberdade no estacionamento da loja Havan de Guaíba caindo, sendo derrubada justamente pela forte ventania. Ninguém se feriu e nenhum veículo foi danificado.

— Vento veio forte, ela deu uma balançada e daqui a um pouco ela caiu. Foi rápido. Tinha um carro ali embaixo, mas sorte que não pegou nele. O braço ficou na frente do carro — conta Osvaldino Pereira, 76 anos, que passava pelo local e testemunhou a cena.

Em Porto Alegre, as rajadas chegaram a 83 km/h, segundo a Defesa Civil estadual. Em Canoas, foram ainda mais fortes: 96 km/h — o maior registro no Rio Grande do Sul nesta tarde.

Renan Mattos/Agencia RBS
Tapumes danificados junto à Usina do Gasômetro.

Pouco depois das 16h, antes ainda de o aviso do órgão atingir seu prazo de validade (previsto para 16h20min), chovia na Capital, mas com vento fraco. Às 17h já nem chovia na área central, mas os poucos minutos de ventania ainda impactavam o trânsito, com ao menos 16 cruzamentos com sinaleiras fora de operação, a maioria na Zona Leste.

O alerta vermelho da Defesa Civil pedia que as pessoas buscassem abrigo e se afastassem de árvores, placas e postes. Confirmando a relevância do sinal emitido, galhos e até árvores inteiras caíram em diversos pontos da cidade.

Em um dos símbolos da Capital, a Rua dos Andradas, um galho atingiu uma pedestre, na calçada. Ela foi socorrida pelo Samu e não há detalhes sobre o estado de saúde dela. Perto dali, um motociclista foi derrubado por um tapume que o vento arrastou na orla do Guaíba. O acidente aconteceu em frente à Usina do Gasômetro e foi registrado em vídeo:

No bairro Santana, uma árvore destruiu parte do muro de uma casa. Não há informações de feridos.

A via ficou bloqueada. Às 17h, o mesmo ocorria, de forma total ou parcial, em outras sete ruas ou avenidas de Porto Alegre, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Ainda havia outros três pontos com trânsito prejudicado por fios, placas ou tapumes caídos.

Falta de energia e água

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, afirmou que o temporal causou falta de energia em diversos pontos da Capital. Ainda não há dados precisos da CEEE Equatorial sobre a extensão do problema.

— Nossas equipes estão atuando nas ruas e principais avenidas — pontuou Melo, citando o monitoramento feito a partir do Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic).

André Ávila/Agencia RBS
Equipes da CEEE Equatorial vistas na rua logo após a ventania.

A queda da luz atingiu a Estação de Bombeamento de Água Bruta (Ebab) São João, o que deve afetar o abastecimento de água em 34 bairros:

  • Anchieta
  • Auxiliadora
  • Boa Vista
  • Chácara das Pedras
  • Costa e Silva
  • Cristo Redentor
  • Farrapos
  • Floresta
  • Higienópolis
  • Humaitá
  • Jardim Carvalho
  • Jardim Europa
  • Jardim Floresta
  • Jardim Lindóia
  • Jardim Itú
  • Jardim Sabará
  • Jardim Leopoldina
  • Jardim São Pedro
  • Mario Quintana
  • Morro Santana
  • Navegantes
  • Parque Santa Fé
  • Passo D'Areia
  • Passo das Pedras
  • Rubem Berta
  • Santa Maria Goretti
  • Santa Rosa de Lima
  • São Geraldo
  • São João
  • São Sebastião
  • Sarandi
  • Três Figueiras
  • Vila Ipiranga
  • Vila Jardim

Pelo Estado

Além da Região Metropolitana, o vento forte causou estragos em outros pontos do Rio Grande do Sul. Em Passo Fundo, as rajadas chegaram a 88,9 km/h. Também em poucos minutos de intempérie, houve ao menos 12 casas destelhadas e 14 árvores derrubadas. Não há informação de feridos ou desalojados.

Tatiana Tramontina/Agencia RBS
Árvore caiu sobre carro no bairro Boqueirão, em Passo Fundo.

Em Cristal, no sul do Estado, um telhado de zinco arrancado pelo vento acabou caindo sobre a BR-116, no km 427. A pista teve bloqueio parcial até 16h45min, quando o material foi removido.

Ainda de acordo com a Defesa Civil estadual, a ventania foi forte também em Rosário do Sul, na Fronteira Oeste (85 km/h) e Santa Maria, na Região Central (77,8 km/h).

O órgão registrou danos em 28 municípios. Em Rio Pardo, no Vale do Rio Pardo, o temporal danificou os telhados de ao menos cinco residências e duas escolas. A cidade é a única a informar, até aqui, pessoas desalojadas — são 12, segundo a Defesa Civil.

Divulgação/Ecovias Sul
Vento lançou telhado de zinco sobre a BR-116.

O que aconteceu?

De acordo com o meteorologista Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o cenário foi provocado pela formação de uma "linha de instabilidade severa" durante a passagem de uma frente fria pelo Estado.

— É um caso clássico: tem calor de 33ºC e a umidade está bastante elevada. Quando o ar frio encontra o ar quente, forma a frente fria e uma linha de instabilidade severa com rajadas de vento — explicou em entrevista ao programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha.

André Ávila/Agencia RBS
Nuvem carregada sobre a Capital, um pouco antes de o temporal atingir a zona central.

A frente fria impulsiona uma linha de instabilidade porque, ao avançar, ela empurra uma massa de ar frio contra uma massa de ar quente e úmido que está à frente. Esse contraste intensifica a instabilidade atmosférica e pode resultar em chuva forte, trovoadas e rajadas de vento.

A tendência é de que, a partir da madrugada, as condições se normalizem em todo o Estado.

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