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Bebês estão sem leite fornecido pelo Estado
Famílias de crianças que dependem da fórmula Neocate denunciam demora na liberação do produto distribuído pela farmácia estadual

Mães de bebês com alergia à proteína do leite de vaca (APLV) relatam demora do Estado e de municípios na liberação da fórmula infantil Neocate, recomenda em casos graves e considerada essencial para a saúde das crianças. Sem resposta aos pedidos protocolados e diante do alto custo do produto – que pode chegar a mais de R$300 a lata –, famílias descrevem desespero, endividamento e até soluções improvisadas, que podem colocar em risco a saúde dos filhos.
Moradora da Capital, Ariane Vaz Santos aguarda desde 8 de outubro a liberação do leite especial para a filha, Aurora, de dois meses. Segundo ela, já são mais de75 dias de espera. O pedido foi protocolado na Farmácia de Medicamentos Especiais (Celme), mas segue apenas como “em análise”. Cada lata dura cerca de três dias. Sem condições financeiras de manter a compra contínua, Ariane precisou recorrer a medidas extremas. Ela conta que Aurora não pode receber fórmulas comuns, pois já apresentou sangue nas fezes após o consumo.
– Teve uma semana inteira em que tive de dar água de arroz para ela. Eu sei que não tem nutriente nenhum, mas não tinha o que fazer. É desesperador. Tu não sabe se paga o aluguel ou compra o leite. É um abandono do Estado – relata a mãe.
Espera
Situação semelhante vive Fernanda Tavares, mãe de Alice, também de dois meses, em Sapucaia do Sul. Diagnosticada recentemente com APLV, a bebê apresentou sangue nas fezes, erupções cutâneas e dores intensas após tomar fórmula comum.
A pediatra recomendou a fórmula especial Neocate. O pedido foi protocolado na farmácia estadual do município de Sapucaia do Sul em 28 de novembro. Desde então, está “em análise”, sem qualquer retorno. Com o recesso de fim de ano, Fernanda teme que o caso só seja avaliado em 2026. Enquanto isso, Alice depende exclusivamente de doações de outras mães. Segundo Fernanda, a fórmula adequada transformou a rotina da filha.
– Hoje eu só tenho uma lata doada. Sem isso, vou ser obrigada a comprar. Ela parou com o sangue nas fezes, dorme melhor e não sente mais dor – afirma.
As duas famílias afirmam que, com o fornecimento regular, as crianças teriam desenvolvimento normal. Sem o leite, porém, vivem sob risco. As mães cobram agilidade do Estado e das prefeituras.

Contrapontos
/// Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Saúde informou que a fórmula Neocate (fórmula 100% aminoácidos livres) para crianças de até três anos tem estoque disponível em Porto Alegre e em Sapucaia do Sul. Ao comentar sobre o processo de avaliação das solicitações, explica que é seguido o protocolo estadual de APLV. Para que o Estado forneça a fórmula especial, é necessário cumprir os critérios definidos, especialmente sobre aleitamento materno e uso de outras fórmulas.
/// Sobre os casos mencionados na reportagem, diz que as mães devem procurar o médico responsável, que deve preencher o laudo com as informações solicitadas pela consultoria técnica. No momento, os pedidos estão indeferidos até que os critérios sejam cumpridos.
/// A Secretaria de Saúde de Porto Alegre informa que é de responsabilidade Estadual a avaliação das solicitações.
/// A prefeitura de Sapucaia do Sul informou que a solicitação está em análise pelo perito do Estado, com prazo de até 30 dias após o protocolo. A prefeitura segue disponível para orientar, conferir documentos e fazer os encaminhamentos, mas a liberação do material depende da avaliação técnica da Farmácia Estadual.
Produção: Henrique Moreira