Vida na estrada
Casal deixa apartamento para trás, viaja de Corsa 1996 até a Argentina e agora monta Kombi para ir ao Alasca
Alan, Niqueli e a pet Gamora moravam em Canoas, quando decidiram embarcar em outro estilo de vida


Um casal gaúcho largou os empregos e colocou o apartamento para alugar a fim de viver uma aventura: chegar a Ushuaia, na Argentina, em um Corsa Wind 1996. Entre ida e volta, foram 13 mil quilômetros percorridos em um trajeto que durou quase dois meses no ano passado.
Niqueli Pulgatti Ferraro, 32 anos, e Alan Santos Batista, 31 anos, viajaram acompanhados da pet Gamora, seis anos. O casal decidiu que seguirá vivendo na estrada e atualmente está reformando uma Kombi com um objetivo maior: alcançar o Alasca.
Essa história faz parte da série de reportagens Tem Gaúcho na Estrada (acesse abaixo outras aventuras).
"Era o nosso guerreiro"

A vontade de viajar fazia parte dos sonhos do casal há tempos. Inspirados por outros viajantes, Niqueli e Alan decidiram que comprariam uma Kombi. E colocaram um prazo para tirar do papel o plano de viajar.
Em outubro de 2024, os dois viram que não teriam como comprar a almejada Kombi e optaram pelo que estava à disposição.
— Tínhamos o Corsa, que havíamos comprado há pouco. Era o nosso único carro e o nosso guerreiro, porque, logo que compramos, baixamos os bancos de trás, botamos umas madeiras ali — lembra Niqueli.
Alan completa:
— No verão de 2024, fomos para a praia, só com o básico, dormindo nele mesmo para tentarmos ver como era. Ali, começamos a amadurecer a ideia.
Depois dos passeios em finais de semana e feriados, Niqueli e Alan projetaram como seria o Corsa em versão mini motorhome.
Por onde passaram
O carro, que foi comprado em 2023 e hoje não está mais na família (entenda abaixo), foi equipado com placa solar e bateria extra, além de contar com um fogareiro de camping para preparo das refeições.
O banco de trás foi removido e, no lugar, Niqueli e Alan conseguiam montar uma cama improvisada, com tablado e colchonete. Embaixo da cama, ficavam os armários para guardar roupas e alimentos.
— Deitávamos os bancos da frente, espichávamos um outro trecho de madeira, um colchonete e ficava uma cama de um metro e oitenta, mais ou menos. Um pouquinho maior (de largura) que um colchão de solteiro — detalha Alan.
A viagem começou em 28 de outubro de 2024 e terminou em 21 de dezembro.
- O casal saiu do RS por Uruguaiana, passou por San Martín de los Andes e Bariloche (na Argentina) e entrou no Chile, onde passou pela famosa rodovia Carretera Austral
- Depois, voltou para a Argentina e desceu até Ushuaia
- Para retornar a Canoas, onde o casal morava, a dupla costeou o Uruguai e entrou no RS pelo Chuí
Ficou na memória
Ao longo desse trajeto, a hospedagem era dentro do carro. Por vezes, Niqueli e Alan usavam uma barraca ou ficavam em hospedagens via Airbnb. Na estrada, os banhos e o uso de banheiro eram feitos em postos de combustível e em hostel.
Entre os perrengues, mais da metade do caminho foi feita com a cama improvisada pela metade. Isso porque uma das madeiras utilizadas foi esquecida em um camping.
— O Alan dormia no banco (do carro), porque ele não conseguia deitar lá atrás. E eu e a Gamora conseguíamos deitar ali, meio apertadas, mas concluímos a viagem desse jeito — conta Niqueli, aos risos.
Quanto gastaram
Segundo o casal, o Corsa rendia cerca de 15 quilômetros por litro. Ao todo, incluindo gasolina, alimentação, hospedagens, documentos, manutenção do carro, pedágios e outros itens, a viagem custou R$ 13.071,97.
Antes de pegar a estrada, o principal receio do casal era relacionado a finanças. Os dois haviam guardado uma quantia em dinheiro, que terminou durante o trajeto no Exterior, e também tinham em mente que precisariam fazer alguns trabalhos.
Tchau, tchau, Corsa!
O espírito viajante não terminou no retorno a Canoas, no fim de 2024. Niqueli e Alan fizeram ajustes no Corsa e começaram a percorrer o litoral brasileiro. Eles pararam em um camping em Passo de Torres (SC), para fazer voluntariado, onde ficaram até fevereiro de 2025.
Depois, foram a Florianópolis (SC). A ideia era seguir com o carro até o Nordeste, mas eles perceberam que faltaria estrutura no Brasil para terem apenas o veículo como moradia. Foi quando iniciaram a busca por uma Kombi. A nova parceira, de modelo Clipper 1995, foi comprada em julho. No lugar dela, foi entregue o Corsa.
A reforma da Kombi

De março a novembro de 2025, em Florianópolis, o casal se hospedou em camping e em Airbnb. Niqueli conseguiu um emprego em escritório de contabilidade e Alan trabalhou em estética automotiva, em empresa de aquecedor e como motorista de aplicativo. Os dois também venderam doces, adesivos e chaveiros.
A parte externa da Kombi já foi reformada e a elétrica está pronta. O veículo tinha um princípio de projeto para viagem, com um banco-cama e início da instalação de manta térmica. Neste fim de novembro, o casal está em Passo de Torres (SC), finalizando a parte interna do veículo.
A Kombi terá cozinha, com pia, cooktop e frigobar, além de cama, sanitário portátil e barraca para banho.
O casal planeja trilhar o litoral brasileiro até o Nordeste e, então, passar pelo centro do país rumo a Canoas. Depois, dará início aos preparos, até mesmo de documentações, para seguir ao Alasca.
Os dois dizem não sentir saudade de ter endereço fixo, mas, sim, dos familiares e amigos.
Pela estrada, eles destacam as amizades que surgiram, além da conexão e da troca de experiências. A meta, aliás, é seguir vivendo nesse estilo.
— Vamos indo até quando acharmos que temos que parar. Vamos até o Alasca, disso temos certeza — ressalta Niqueli.