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De pichações a ambulantes irregulares ocupando bancos de concreto: Praça XV, recém-revitalizada, volta a ser alvo de vandalismo

Prefeitura de Porto Alegre investiu R$ 601 mil para embelezar o espaço público. Porém, apenas quatro meses depois do fim da obra, já é necessária uma nova manutenção. Executivo diz que fará reparos na próxima semana

21/12/2025 - 14h21min


Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
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Jonathan Heckler/Agencia RBS
Bancos de concreto recém-instalados já estão pichados.

Em março deste ano, a prefeitura de Porto Alegre aplicou R$ 601 mil na revitalização de uma das praças mais antigas da Capital. A intenção era recuperar o charme da Praça XV de Novembro, localizada no coração da cidade, junto ao Mercado Público e ao antigo abrigo dos bondes. Antes da obra, o local estava sujo e repleto de pichações — cenário revertido por pouco tempo após o fim dos trabalhos, em agosto. 

Quem circula pelo local voltou a perceber atos de vandalismo e o aumento de ambulantes irregulares ocupando o espaço. 

O novo mobiliário foi vandalizado, com pichações ou mesmo retirado de seus locais originais. No entanto, o piso refeito ainda está nivelado.

— Nunca percebi a obra pronta, mas por um tempo a praça estava mais limpa, com o chão reto. Estava ficando bonito. Essa sujeira afasta as pessoas. Eu trabalho na (Rua) Otávio Rocha e estou evitando passar por ali. Sempre sou abordada por gente estranha — diz Ranielly Silveira, 29, funcionária de uma loja de roupas no Centro Histórico. 

Bancos que deveriam ser utilizados por frequentadores do Centro que buscam descanso tornaram-se balcões de ambulantes informais. Há bonecas rabiscadas, calçados sem par e roupas com buracos. Nas últimas semanas, havia até uma esteira de academia sendo anunciada na calçada.

As esferas de concreto

A prefeitura justifica que parte das esferas de concreto foi retirada para uma ação dos bombeiros durante um incêndio que ocorreu em um prédio histórico na Rua Marechal Floriano Peixoto, que fica de frente para a praça. Contudo, outros balizadores foram removidos no Largo Glênio Peres, longe de onde aconteceu o sinistro. 

Já as "bolas" de concreto, como frequentadores do Centro têm chamado esses novos balizadores, estão hoje amontoadas em partes da praça

Prefeitura diz que fará reparos 

A obra de revitalização foi conduzida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), que arrecadou o valor investido por meio de uma contrapartida com a construtora Cyrela Goldztein. 

Segundo a pasta, as intervenções incluíram a recuperação de muros, grades, escadarias, pisos e postes de iluminação, além de serviços de limpeza, lavagem e instalação de novos bancos, lixeiras, floreiras, balizadores de concreto e bicicletários.

"As melhorias seguem diretrizes atuais de planejamento urbano, priorizando o uso dos espaços pelos pedestres e restringindo a circulação de veículos em áreas sensíveis, especialmente sobre os pavimentos de basalto", informa a pasta. 

De acordo com a prefeitura, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) realizará serviços de manutenção e reposição de equipamentos que estão fora do lugar na próxima semana. A nota enviada à reportagem não fala sobre a limpeza das pichações. 

Ambulantes irregulares

Sobre a presença de ambulantes irregulares, a prefeitura diz que já monitora a situação

A Secretaria Municipal de Segurança (SMSeg) afirma promover, semanalmente, ao menos duas ações integradas de fiscalização, ordenamento e limpeza na Praça XV. As operações envolvem a Diretoria-Geral de Fiscalização (DGF), a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). 

A vereadora e ex-secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Fernanda Barth, que acaba de deixar o cargo, diz que a fiscalização deve ser mais rigorosa no próximo ano a partir da chegada de novos servidores que atuarão nesta área. 

— A gente tira os ambulantes de um lado, e eles vão para outro. Tiramos do outro e eles voltam para cá. Não adianta fiscalizar hoje e não voltar amanhã, e depois de amanhã. É preciso estar com a Guarda junto, caso contrários eles (ambulantes irregulares) armam um barraco. Só tem um jeito: chamar essas pessoas para a regularidade. Se ele é um comerciante de verdade, que quer mudar de vida, vamos chamá-lo para ele se regularizar e tirar um alvará de ambulante — opina a parlamentar. 

Guilherme Gonçalves/Agência RBS
Vendedores usam novos bancos para vender produtos.

A Brigada Militar conta com um posto junto ao abrigo dos bondes. O sub-comandante do 9º Batalhão da organização, major Fabrício Jung Zaniratti, conta que sua equipe costuma fazer ações semanais na região. No local, já foram presas pessoas que cometeram diversos crimes, como roubo e até tráfico de drogas. 

— Ontem (quinta-feira), prendemos um cidadão por porte de maconha. Ele já tinha 32 passagens pela polícia. A Praça XV não é um ponto de tráfico contínuo, despercebido por nós, mas já aconteceu de ter gente vendendo droga ali, como em outros pontos da cidade. Havendo tráfico, a gente faz a abordagem e prende — alerta o sub-comandante. 

Abrigo dos bondes

No mês passado, a prefeitura iniciou a obra de revitalização dos antigos abrigos dos bondes, localizados junto à Praça XV. O local conta hoje com dezenas de lanchonetes e tabacarias. 

Segundo o diretor de Patrimônio de Porto Alegre, Tomás Holmer, a obra é necessária para corrigir infiltrações e o reboco das marquises. O investimento é de R$ 890 mil e os trabalhos devem ficar prontos no primeiro semestre de 2026. 

Guilherme Gonçalves/Agência RBS
Trilhos nos paralelepípedos estão preservados junto ao abrigo.

Uma das praças mais antigas

O projeto para implantar uma nova praça no local do chamado Largo do Paraíso surgiu no começo do século 19. Na época, o logradouro público não tinha urbanização. A região cresceu e começou a receber diversos comércios. Em 1844, foi construído o primeiro Mercado Público de Porto Alegre. Seis anos depois, foi feita uma doca, onde hoje está a Praça Parobé, instalada posteriormente sobre aterro.

Somente com a construção do novo Mercado Público, em 1869, o espaço começou a ser urbanizado, ganhando o nome de Praça Conde D’Eu. A inauguração ocorreu em 1882. Dois anos depois, foi colocado um chafariz de ferro bronzeado, que mais tarde seria transferido ao Parque Farroupilha, onde está até hoje.

Após uma sequência de mudanças de nomes de logradouros públicos, que se seguiu à Proclamação da República, uma resolução de 11 de dezembro de 1889 adotou para a praça o nome de XV de Novembro.

Antes, em 1885, fora erguido um chalé para venda de sorvetes, que em 1911 foi substituído por um novo: o tradicional Chalé da Praça XV.


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