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Irmãs que coordenam cooperativa de reciclagem na Capital disputaram reality da TV Globo

Nas sextas-feiras, o colunista Émerson Santos escreve sobre educação, cultura, inovação e toda a diversidade presente nas comunidades

26/12/2025 - 08h00min


Émerson Santos
Émerson Santos
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CUFA/Divulgação
Paula e Stefani na etapa nacional da Expo Favela.

É importante falar sobre todo o potencial existente nas periferias, porém, ainda mais fundamental é dar espaço e oportunidades para que essas potencialidades apareçam e se fortaleçam. Quem acompanhou o reality show Expo Favela: O Desafio, que foi exibido no programa É de Casa, da TV Globo, pôde ter uma noção da riqueza de ideias criativas que surgem nas quebradas do Brasil afora.

O programa foi a última etapa da feira de empreendedorismo que avaliou negócios de todo o país. Entre os 10 finalistas, houve uma iniciativa gaúcha, de Porto Alegre.

A SDV Reciclando, que já apareceu algumas vezes aqui nas páginas do Diário Gaúcho, ficou entre as cinco vencedoras da Expo Favela RS, que ocorreu no início de novembro, e garantiu vaga para participar da nacional, que também aconteceu no mês passado, nos dias 29 e 30. Entre as centenas de competidores, a cooperativa de reciclagem das irmãs Stefani e Paula Guedes foi uma das escolhidas para a grande final, que rolou na Globo.

O reality terminou no final de semana passado e elas acabaram não sendo as vencedoras, mas garantiram mais experiência para o seu negócio e, principalmente, mostraram para o Brasil o que a união de uma comunidade é capaz de realizar. Elas voaram alto.

Mentoria

Comecei falando sobre dar espaço e oportunidades para as boas ideias que nascem nas bordas das cidades, e a Expo Favela é uma das iniciativas que têm cumprido esse papel. 

Então, é legal ver a trajetória das gurias da reciclagem se encontrar com esse evento de empreendedorismo que tem o objetivo de justamente potencializar negócios periféricos. Como parte do prêmio que receberam por terem vencido a etapa gaúcha, Stefani e Paula terão um ano de suporte e mentoria oferecidos pela Central Única das Favelas do RS. 

A ideia é ajudar as gurias a estruturarem seu negócio com uma visão de empreendedorismo.

— Vai nos ajudar a reorganizar os projetos. A gente vai aprender como nos articular, buscar recursos usando o empreendedorismo. A gente fica dentro da comunidade, mas para a comunidade crescer e avançar, precisamos ir lá fora e buscar esses recursos para usar aqui — destaca Paula, afirmando que essa é uma oportunidade de elas aperfeiçoarem o que já executam e mostrar que, com investimentos, projetos periféricos são capazes de gerar renda, educação, conscientização ambiental e exemplo positivo para a sociedade.

Da Vila Herdeiros a SP

Mas não foi simples sair da Vila Herdeiros, na zona leste da Capital, e chegar em São Paulo, onde ocorreu a nacional da Expo Favela. É que vencer aqui no RS garantiu despesas pagas para apenas uma representante de cada organização. Ou seja, elas precisavam levantar recursos para que as duas fossem. 

Para isso, tiveram de contar com o apoio de amigos, já que não tinham condições financeiras. Foi feita uma mobilização e conseguiram a passagem de avião; na sequência, ofereceram a elas hospedagem na casa de uma pessoa, a cerca de uma hora e meia de distância do local da competição. Paula, que teria direito de ficar em um hotel, escolheu acompanhar a irmã.

Para o deslocamento, novamente tiveram ajuda. Um rapaz que conheceram em eventos de recicladores se ofereceu para levá-las da casa onde estavam até o evento. Foram dois dias de correria, mas que garantiram a chance de apresentar seu trabalho em rede nacional.

— Foi bom para nós, catadores, entendermos que somos empreendedores, e para os eventos também nos verem dessa forma — pontua Stefani.

Um projeto, múltiplas atuações

Jonathan Heckler/Agencia RBS
Elas mantêm uma cozinha solidária.

As ações que a SDV Reciclando realiza vão além de juntar e vender os recicláveis. Primeiro, que a cooperativa surge de um movimento das irmãs para recomeçarem suas trajetórias. Para romper com os ciclos de violência doméstica que viviam, encontraram na reciclagem um caminho para a independência financeira e, em 2018, começaram o trabalho.

Logo no início, passaram a incluir outras pessoas da comunidade, transformando a SDV em um espaço de apoio para mulheres em situação de vulnerabilidade.

Só que o trabalho não parou por aí. Com o tempo, novas ações foram criadas, como a cozinha solidária, biblioteca comunitária, programa de menor aprendiz e um sistema de crédito que troca materiais recicláveis por outros produtos.

Um dos objetivos das gurias é erguer um galpão estruturado para a SDV, mirando na consolidação de um espaço que vire ponto de transformação social para a comunidade.

—  A gente sabe que, hoje, o tráfico é referência. Mas nós também somos referência e disputamos as consciências. Com um projeto bem estruturado, eles vão cair em nós primeiro, antes de cair lá (na criminalidade) — enfatiza Stefani.


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