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Papo Reto

Manoel Soares: "Chuva na Janela"

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

13/12/2025 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Manoel Soares/Arquivo Pessoal
Hoje, ele reflete sobre tudo o que vem à mente de pessoas vulneráveis quando a água começa a cair

Quando a chuva bate na janela de uma família pobre de regiões que alagam, um filme passa pela cabeça. Primeiro, tem que aplacar o trauma que invade o coração ao lembrar da cheia do ano passado. Alguns estão agora conseguindo se recuperar dos estragos, os medos estão neste momento se dissipando dos corações das crianças, mas nem sempre o clima respeita o tempo do coração. 

A cabeça começa uma matemática cruel que tenta calcular a quantidade de tijolos necessários para colocar para cima os móveis que estragam com a água. As roupas são outra preocupação: tem que achar um lugar seguro para que elas não molhem, pois, além de não ter como secar, não terá como lavar. É preciso lembrar também que as roupas precisam ficar longe do fogo, porque, se a luz acaba, é necessário ter velas espalhadas pela casa, mas aí existe o risco de incêndio. 

Sem saída

Por um momento, chega-se à conclusão de que melhor seria ir para casa de um parente, aí vem outra preocupação, os furtos. Deixar a moradia alagada sozinha geralmente cria oportunidade para bandidos depenarem a casa. Nessa hora, quanto mais os pingos ficam grossos, mais o pensamento acelera e não acha saída. Chuva na janela é um abismo sem fim para quem vive no curso das águas. No fim, só resta se render à oração pedindo que a chuva seja clemente. Caso ela não seja, que ao menos o poder público aprenda com seus erros e não abandone ninguém.





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