Um dos meus passeios favoritos quando criança era ir até a Gruta dos Índios, o parque público mais querido da minha Santa Cruz. Levava esse nome porque seu principal atrativo é uma caverna que - acreditava-se - havia sido escavada por povos originários para servir de abrigo.

Era uma aventura e tanto: subíamos uma longa escada em meio à deslumbrante mata nativa, às vezes observados por macaquinhos que se deslocavam entre as árvores, e deparávamos com aquela enorme abertura na rocha. Era mágico caminhar ali dentro, cuidando para não escorregar no musgo e imaginando que aquele lugar cheio de umidade, escuridão e mistério já havia sido lar de uma comunidade antiga.

Importante dizer que a crença não havia sido tirada da cartola. De fato, foram encontrados objetos indígenas nas proximidades da área do parque, o que tornava tudo muito plausível.

Anos depois, porém, o sonho acabou. Pesquisadores comprovaram que a caverna não era obra de indígenas. Aliás, sequer era uma caverna, e sim uma paleotoca, esculpida por animais pré-históricos gigantes.

Ok, a história também tem seu charme. Mas o fato é que um encantamento de gerações nos foi roubado da noite para o dia. Como assim a Gruta dos Índios nunca teve índios? E as incontáveis vezes em que subimos até lá só para imaginar uma tribo instalada ali, projetando em cada canto daquele covil ecoso de sombras como eles dormiam, comiam, trabalhavam?

Que sacanagem. Era quase como alguém chegar e dizer que, pensando bem, nunca teve gladiadores no Coliseu, ou pirâmides no Egito. Esses cientistas não tinham mais o que fazer?

Com o tempo a ferida cicatrizou, claro. Entendi, afinal, que o papel do conhecimento também é pôr à prova nossas crendices e paixões, doa a quem doer. Hoje, em respeito à boa ciência, o local, que continua incrível, se chama apenas Parque da Gruta. Paciência.

Enquanto isso, há quem negue que o planeta está mais quente, que vacinas são fundamentais e que os ricos pagam menos impostos do que deveriam.