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Dados do IBGE

Por que a renda dos trabalhadores informais cresceu três vezes mais do que a dos profissionais com carteira assinada no RS

Diferença refere-se à variação apurada entre o terceiro trimestre deste ano e o mesmo período de 2019. Mudanças no mercado de trabalho estão entre os fatores que ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas

01/12/2025 - 11h11min


Anderson Aires
Anderson Aires
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Jonathan Heckler/Agencia RBS
Aumento das atividades autônomas e por conta própria também afetam a dinâmica de renda dos informais, segundo analistas

Em uma economia que segue aquecida, mesmo com perda de ritmo, os rendimentos de quem trabalha na informalidade avançam mais do que os de quem atua no mercado formal no Rio Grande do Sul. Os salários dos trabalhadores sem carteira assinada saltaram 26,03% no terceiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2019, ano pré-pandemia. Esse crescimento percentual é o triplo do verificado no grupo formado por empregados registrados. 

Desemprego em baixa e mudanças no mercado de trabalho e nos hábitos de consumo ajudam a explicar esses movimentos distintos, segundo especialistas. 

No terceiro trimestre de 2025, a renda média dos trabalhadores que atuam sem carteira assinada ficou em R$ 2.692 — 26,03% acima dos R$ 2.136 registrados no mesmo período de 2019, em valores corrigidos pela inflação. 

Já o salário médio dos funcionários com carteira assinada subiu de R$ 2.983 para R$ 3.226 na comparação entre as duas datas, anotando um avanço mais modesto, de 8,15%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Mesmo com diferença menor, esse movimento também é observado no grupo de trabalhadores por conta própria com e sem CNPJ (confira as comparações abaixo).

O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que o aquecimento da economia, mesmo que moderado, pode ser um dos fatores que ajudam a explicar essa diferença. Uma atividade que ainda cria condições para saldo positivo nas contratações aumenta a disputa por mão de obra

Com mais vagas formais disponíveis, o número de trabalhadores dispostos a aceitar empregos em vagas tradicionais sem carteira no setor privado diminui. Isso força uma valorização dos salários para atrair pessoal aos postos sem carteira, segundo o pesquisador.

O levantamento aponta que, mesmo com crescimento percentual maior na renda, os valores absolutos do rendimento médio dos informais são mais baixos. 

Rodrigues diz que a base de comparação mais baixa também influencia em variações percentuais mais robustas. 

Mudanças de hábito e no mercado de trabalho

Nos últimos anos, a dinâmica do emprego passou por uma série de transformações provocadas por acontecimentos como a reforma trabalhista, de 2017, e a pandemia. O professor Moisés Waismann, coordenador do Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, destaca que esses eventos impulsionaram mudanças nos hábitos de consumo, que acabaram respingando no mercado de trabalho. 

Por exemplo, o avanço do comércio digital gerou ainda mais serviços de entrega e outras modalidades de trabalho autônomo ou por conta própria. Isso acaba diminuindo a oferta de pessoas dispostas a manter um vínculo informal com um empregador. Assim, quem busca esse tipo de profissional precisa elevar os valores de salários para ser atrativo, segundo Waismann: 

— Nos acostumamos a comprar online, a viver uma vida mais em casa. Isso faz com que a gente tenha que reorganizar a maneira como a gente vive, e o mercado de trabalho vai refletir esta questão. 

Olhando o grupo de trabalhadores por conta própria, os valores médios recebidos por profissionais sem CNPJ subiram 25,39% comparando o terceiro trimestre de 2025 com o mesmo recorte de tempo de 2029. 

Já a renda dos conta própria com CNPJ cresceu 13,90% no período.

O que esperar do futuro

Os indicadores econômicos mais recentes mostram que o crescimento do país caminha para uma desaceleração neste ano. Ou seja, deve seguir no azul, mas em um patamar menor do que o registrado nos últimos anos. Além disso, o juro básico ainda alto, que tira o apetite dos consumidores e diminui o investimento de empresas, tende a causar uma perda de ritmo nas contratações.

O coordenador da Pnad Contínua no Estado destaca que o futuro dos rendimentos depende de como essa dinâmica entre economia e mercado de trabalho vai funcionar.

O professor Moisés Waismann, coordenador do Observatório Unilasalle, entende que, se não forem feitas mudanças estruturais para aumentar a renda no mercado formal, os trabalhadores sem carteira seguirão com variação maior nos rendimentos. E, mais adiante, isso poderia acarretar um rebaixamento na renda do trabalho como um todo.

— Se o mercado de trabalho não proporcionar uma renda adequada, não sei como será o futuro dessa variação. Mas acho que isso não se estanca, eu acho que isso se agudiza e se intensifica se nada for feito — pontua. 

Comparações de rendas

Variação da renda entre o terceiro trimestre de 2019, pré-pandemia, e o terceiro trimestre de 2025

Trabalhador do setor privado

Com carteira

  • 2019: R$ 2.983
  • 2025: 3.226
  • variação: 8,15%

Sem carteira

  • 2019: R$ 2.136
  • 2025: R$ 2.692
  • variação: 26,03%

Trabalhador por conta própria

Com CNPJ

  • 2019: R$ 4.193
  • 2025: R$ 4.776
  • variação: 13,90%

Sem CNPJ

  • 2019: R$ 2.387
  • 2025: R$ 2.993
  • variação: 25,39%

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