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Problema comum

Pressão baixa no verão? Entenda por que o calor intensifica a hipotensão e saiba como prevenir e tratar os sintomas

Condição é agravada pelas altas temperaturas e pode causar tontura, suor frio, náuseas e até desmaios

23/12/2025 - 09h49min


Camila Bengo
Camila Bengo
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André Ávila/Agencia RBS
Quanto mais altas estiverem as temperaturas, menor tende a ser a pressão arterial, diz especialista.

Nem só de praia, calor e cerveja gelada é feito o verão. Para muitas pessoas, a estação mais quente do ano também é sinônimo de sintomas associados à hipotensão. Mais conhecida como pressão baixa, a condição tende a se intensificar com as altas temperaturas. 

Luis Beck da Silva Neto, chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), observa que o calor se relaciona com a pressão arterial de maneira inversamente proporcional: quanto mais altas estiverem as temperaturas, menor tende a ser a pressão. 

Esse efeito ocorre porque o calor impulsiona a vasodilatação, uma vez que os vasos sanguíneos se dilatam para ajudar o corpo a dissipar a temperatura elevada. Dessa forma, o sangue consegue fluir de maneira facilitada, diminuindo a pressão exercida no interior das artérias. 

Tal declínio não é necessariamente um problema. Para quem sofre de hipertensão, por exemplo, o verão é um aliado natural no controle desta condição. Entretanto, para aqueles que apresentam valores normais ou baixos, o calor pode levar a episódios de hipotensão — quando a pressão arterial cai a ponto de causar sintomas físicos. Os mais comuns são:

  • Tontura e vertigem: caracterizadas pela sensação de que o ambiente está girando
  • Visão embaçada: caracterizada pela dificuldade de focar a visão, com possibilidade de enxergar "pontinhos" e outros efeitos visuais
  • Fraqueza: caracterizada por falta de energia e cansaço excessivo, sem motivo aparente
  • Náusea: que pode ou não se concretizar em vômito
  • Suor frio: que tende a vir acompanhado de palidez na pele
  • Palpitações: uma vez que o coração bate mais rápido para compensar a baixa pressão
  • Desmaio: caracterizado pela perda temporária da consciência, geralmente após a tontura

Desidratação agrava problema

Além da vasodilatação desencadeada pelo calor, as quedas de pressão também podem estar relacionadas a episódios de desidratação. O chefe de Cardiologia do HCPA comenta que a necessidade diária de ingestão de água aumenta nos meses de verão. Se essa necessidade não for contemplada, ocorre um descompasso que favorece a desidratação e pode levar à hipotensão.

— O corpo perde líquidos muito mais rapidamente no verão, porque a transpiração aumenta. Isso significa que precisamos beber mais água do que o normal para conseguir compensar essas perdas. Muitas vezes, as pessoas negligenciam a ingestão de líquidos e acabam ficando desidratadas, o que leva a momentos de hipotensão e, consequentemente, desmaios — diz o cardiologista. 

O médico diz que outro motivo comum para a hipotensão durante os meses de calor é a síndrome vasovagal — ou "desmaio simples". Essa condição causa síncopes a partir de estressores emocionais, como um susto ou uma notícia inesperada, ou estressores físicos, que pode ser a exposição prolongada ao calor excessivo.  

— A temperatura atua como um gatilho importante, potencializando esse tipo de desmaio. É um quadro benigno, que não indica condições mais sérias e geralmente está associado a situações específicas, que são agravadas durante o verão — afirma.

Como prevenir a hipotensão

Para evitar o incômodo de sintomas associados à pressão baixa durante o verão, o cardiologista Luis Beck da Silva Neto recomenda medidas simples, mas efetivas para o controle dos episódios de hipotensão. A principal delas é a ingestão correta de líquidos. 

O médico sugere que o consumo seja de, pelo menos, 35ml de água para cada quilo corporal. Assim, uma pessoa que pesa 70 quilos, por exemplo, precisará beber ao menos 2,45 litros para manter um nível de hidratação satisfatório. 

— Em dias muito quentes ou quando se está transpirando muito, o ideal é ainda aumentar essa ingestão. E não precisamos esperar sentir sede para beber água. Devemos consumi-la aos poucos, ao longo de todo o dia — pontua o cardiologista. 

André Ávila/Agencia RBS
Pressão baixa também pode ser causada por desidratação.

Além disso, o médico recomenda:

  • Evitar a exposição prolongada ao calor, especialmente em ambientes fechados e pouco ventilados
  • Proteger-se do sol, evitando os horários de pico
  • Não passar longos períodos em jejum, sobretudo em dias quentes
  • Evitar o consumo excessivo de álcool, que aumenta a desidratação

— É comum as pessoas beberem com mais frequência no verão, mas o álcool, por ser diurético, acelera o processo de desidratação e pode gerar quedas de pressão. O ideal é beber com moderação e buscar sempre intercalar com água — justifica. 

O que fazer durante uma crise

Quando ocorre um episódio de hipotensão, a melhor estratégia é procurar um local arejado, respirar fundo e deitar com as pernas elevadas. Essas recomendações valem para todos quadros de hipotensão, mas tem especial importância naqueles que envolvem desmaio, como explica o cardiologista Luis Beck da Silva Neto:

— É muito importante não tentar manter a pessoa desmaiada sentada ou em pé, pois há risco de nova queda e lesão. O correto é deitá-la na posição de pernas elevadas e aguardar o retorno da consciência. 

Após a melhora dos sintomas, é recomendado ingerir água ou outro líquido não alcoólico. Se a queda de pressão estiver associada à falta de alimentação, é indicado fazer uma refeição leve, para quebrar o jejum. 

Colocar sal na língua ajuda?

Apesar de bastante popular, a prática de colocar sal na língua após episódios de hipotensão não é recomendada. Segundo o chefe de Cardiologia do HCPA, além de não ter um efeito rápido na reversão dos sintomas, o sal é um vilão da saúde cardiovascular.

— Dificilmente alguém desmaia por falta de sal, a causa quase sempre é falta de líquido. O sal até pode levar à retenção de líquidos no corpo, mas esse efeito é indireto e tardio, então, não faz muito sentido essa estratégia para tratar um momento agudo — justifica o médico. 

Quando a pressão baixa é um problema?

O cardiologista diz que a pressão arterial com valores baixos não precisa ser encarada como um problema. Pelo contrário: ela é até desejável. Segundo o médico, a condição dificilmente está associada a algum quadro clínico de maior gravidade — ao contrário da pressão alta, que aumenta o risco de AVC, infarto e insuficiência cardíaca.

Quando a pressão baixa causa sintomas físicos incômodos, muitos deles agravados no verão, o ideal é recorrer às medidas de prevenção para evitar que ocorram episódios de hipotensão. 

Conforme o médico, no geral, a pressão baixa somente é motivo para preocupação em pessoas que:

  • têm doença cardíaca conhecida
  • idosos que já sofrem de fraqueza decorrente do envelhecimento 
  • que têm episódios recorrentes de desmaios por hipotensão 

Nessas situações, as causas da pressão baixa podem ser diversas e demandam investigação cardiológica ou neurológica. Também é possível associar medicamentos para controle da hipotensão, mas a abordagem não é usual e ocorre somente em casos muito específicos, segundo o especialista. 

André Ávila/Agencia RBS
Calor também interfere na hipertensão.

E como fica a pressão alta no verão?

Conforme Neto, a tendência de pressão mais baixa no verão se aplica a quem sofre de hipertensão. Assim, o verão acaba sendo positivo para os hipertensos, uma vez que a condição provavelmente reduzirá no período. 

— Não por acaso, eventos cardiovasculares graves, como infarto e AVC, são mais frequentes durante os meses de inverno e em países de clima frio — exemplifica o médico. 

Segundo ele, é comum que os pacientes tenham uma prescrição de medicamentos para o inverno, com doses maiores, e outra para o verão, de menor dosagem. 

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