Lá de onde eu venho, terra de colonização alemã, os mais antigos contam que o Natal era um período meio tenso para a gurizada. O Papai Noel daqueles tempos, então chamado de Santa Claus, até que era uma figura simpática. O problema é que ele não andava sozinho. Costumava estar na má companhia do Pelznickel, um tipo maltrapilho, mal-encarado e sempre munido de uma vara de marmelo.

Ao Pelznickel cabia fazer o trabalho sujo: punir os malcriados. Na melhor das hipóteses, ele espionava as crianças, escondido atrás de árvores e arbustos, e delatava os travessos para Santa Claus, elencando quem merecia ou não ganhar presentes. Na pior, aparecia nas casas dos traquinas dias antes do Natal, com a vara de marmelo em punho.

Há relatos até mais assustadores. Alguns dizem que o Pelznickel trazia consigo um imenso saco de tecido encardido. Surgia do nada, diante dos mais arteiros, e os mergulhava no saco. E nunca mais se ouvia falar do traquinas. Verdade seja dita: esse pessoal sabia como amedrontar os moleques que se passavam…

Magia

Os mais antigos asseguram, porém, que apesar do medo do Pelznickel, aqueles eram Natais de magia e alegria. Natais de bolachas pintadas, de enormes pinheiros enfeitados, de velas de Advento e de pedidos de bênçãos ao Menino Jesus. As lojas de brinquedos eram coisa rara e os presentes não eram nada sofisticados – cavalos de madeira, bonecas de pano –, mas eram sempre feitos com muito amor e dedicação, muitas vezes, às escondidas, pelos próprios pais das crianças que os receberiam.

E a ceia era um momento de reencontros, abraços, cânticos, reflexão, caridade e atenção para quem estava à volta – por razões óbvias, ninguém passava a noite toda no Instagram ou no TikTok. Quem sabe essas velhas lembranças, dos mais antigos, não sejam uma bela inspiração para um Natal diferente nesta noite?

Mas e se o Pelznickel aparecer? Que seja convidado a entrar. Desde que deixe a vara de marmelo do lado de fora.