Natal
União de moradores traz clima natalino a região de Cachoeirinha: "Somos como uma família"
Na Rua Major Alberto Bins, esta época do ano se torna um momento para fortalecer os laços da comunidade.

Ao entardecer, de dentro de casa, Ana Sayuri, oito anos, espia a Rua Major Alberto Bins, em Cachoeirinha, e vê as luzes de Natal acendendo nas fachadas das casas. Neste momento, ela chama a mãe, Camila Iwasaki, 48 anos, que já sabe: é hora da filha ir brincar.
Fechada para a circulação de carros, aos poucos a rua vai sendo tomada por moradores. Adultos se sentam em cadeiras de praia e conversam entre si, enquanto crianças pulam em uma cama elástica montada no meio da rua e correm de um lado para o outro com carrinhos de lomba, bicicletas e até um carrinho de supermercado transformado em uma espécie de trenó.
— Entra um, o outro empurra e vai até o final da quadra — explica Camila: — Eles amam. Quando começamos a falar em Natal, a Aninha até lembrou do carrinho que ela tinha andado ano passado.
A cena faz parte da quarta edição do projeto Natal Iluminado, criado por Hellen Vieira, 57 anos, em 2021 – um ano após se mudar para a localidade. Para ela, “reconectar as pessoas com o aqui e o agora” é o objetivo central do evento:
— É um momento para a gente se reconectar e repensar os nossos sentimentos por meio do lúdico, da magia, da brincadeira.
A reportagem do Diário Gaúcho esteve no local na sexta-feira passada. Em um rápido vislumbre da rua, é possível perceber o empenho em evocar a energia natalina. A calçada é coberta por um tapete vermelho. Meias deixadas por crianças, com suas cartas ao Papai Noel, e adornos estão pendurados em árvores iluminadas. Por toda parte há enfeites temáticos. Holofotes e decorações dão brilho às fachadas das casas.
No meio da rua, um carro ostenta uma rena no capô e um Papai Noel de pano no teto — mais tarde, ele sairia em caravana pela cidade, convidando a população para um desfile de Natal que ocorreria no dia seguinte.

Trabalho diário
Marli Regina, 65 anos, dá alguns retoques no automóvel. Ela é uma das participantes do grupo que, todos os dias, às 17h, monta o cenário natalino e, às 22h, desmonta tudo para evitar chuva ou vandalismo. Moradora da região, ela se dedica a fazer, com papelão e sucata recolhida nas redondezas, itens de artesanato que enfeitam a rua.
— A criança não faz questão de luxo, quer atenção, quer carinho, quer alegria, aquela coisa mágica do Natal — diz ela, que desde a primeira edição ajuda na decoração. O que a motiva é a possibilidade de gerar recordações às novas gerações: — A gente quer que as crianças tenham uma memória afetiva daqui a 10 ou 15 anos.

Mas não são só as crianças que são envolvidas pela atividade. Marilê Prates, 82 anos, e Pedro Pisone, 67, que ajudam na organização da rua, exibem uma distinção em uma faixa em seus ombros: Mister e Miss Simpatia. Elemento que não falta na Major Alberto Bins.
— O Natal puxa lá do fundo das pessoas aquela necessidade da convivência social — afirma Marli Regina.
O casal Marta Rocha, 56 anos, e Marco Aurélio Carvalho, 60, também exibe orgulhosamente os prêmios que recebeu nas edições anteriores do evento: são tricampeões no concurso de casa mais iluminada da rua, que avalia o clima natalino em residências do bairro. Este ano, eles buscam o tetracampeonato. Hellen ressalta um importante critério de avaliação:
— Não é só a casa que precisa estar iluminada, mas as luzinhas do coração.
O casal leva isso a sério. Em edições anteriores, um familiar tocando música ao vivo ajudou a conquistar a comissão avaliadora.
Espírito de fraternidade
Hellen lembra do início do Natal Iluminado: ela passava de porta em porta e convidava os vizinhos para a ação. Quatro edições mais tarde, a união da rua vem trazendo frutos.
Jaqueline Teixeira, 61 anos, que mora na Rua Major Alberto Bins desde o seu primeiro ano de vida, concorda com isso:
— Hoje em dia, as pessoas, os vizinhos, mal se cumprimentam. Mas aqui não, somos como uma família. Através dessa convivência, nós vamos melhorando as relações. Eu adoeci, eles fizeram comida e foram me levar. Porque às vezes tu não tens um familiar pra te levar, e tu encontra essas pessoas. Tu te sentes acolhido, se sente em casa.
Enquanto olha a filha, Ana, brincar, Camila Iwasaki também vê os benefícios que a convivência com a vizinhança trouxe para a pequena:
— Ela está fazendo amizades, brincando, interagindo com as outras crianças, é muito bom isso. Porque, hoje em dia, fica todo mundo trancado, cada um na sua casa.
Hellen e o grupo já pensam nas ideias para a edição de 2026, sempre com foco em manter a vizinhança unida, “sorrindo e celebrando junto”. Enquanto observa o movimento, Jaqueline aponta:
— A rua é nossa. Temos que retomar o nosso protagonismo.
*Produção: Breno Bauer