Notícias



Natal

União de moradores traz clima natalino a região de Cachoeirinha: "Somos como uma família"

Na Rua Major Alberto Bins, esta época do ano se torna um momento para fortalecer os laços da comunidade.

24/12/2025 - 05h00min


diario gaucho
Bruno Todeschini/Agencia RBS
A via se converte em um grande espaço de confraternização e construção de memórias

Ao entardecer, de dentro de casa, Ana Sayuri, oito anos, espia a Rua Major Alberto Bins, em Cachoeirinha, e vê as luzes de Natal acendendo nas fachadas das casas. Neste momento, ela chama a mãe, Camila Iwasaki, 48 anos, que já sabe: é hora da filha ir brincar.

Fechada para a circulação de carros, aos poucos a rua vai sendo tomada por moradores. Adultos se sentam em cadeiras de praia e conversam entre si, enquanto crianças pulam em uma cama elástica montada no meio da rua e correm de um lado para o outro com carrinhos de lomba, bicicletas e até um carrinho de supermercado transformado em uma espécie de trenó. 

— Entra um, o outro empurra e vai até o final da quadra — explica Camila: — Eles amam. Quando começamos a falar em Natal, a Aninha até lembrou do carrinho que ela tinha andado ano passado. 

A cena faz parte da quarta edição do projeto Natal Iluminado, criado por Hellen Vieira, 57 anos, em 2021 – um ano após se mudar para a localidade. Para ela, “reconectar as pessoas com o aqui e o agora” é o objetivo central do evento:

— É um momento para a gente se reconectar e repensar os nossos sentimentos por meio do lúdico, da magia, da brincadeira.



A reportagem do Diário Gaúcho esteve no local na sexta-feira passada. Em um rápido vislumbre da rua, é possível perceber o empenho em evocar a energia natalina. A calçada é coberta por um tapete vermelho. Meias deixadas por crianças, com suas cartas ao Papai Noel, e adornos estão pendurados em árvores iluminadas. Por toda parte há enfeites temáticos. Holofotes e decorações dão brilho às fachadas das casas

No meio da rua, um carro ostenta uma rena no capô e um Papai Noel de pano no teto — mais tarde, ele sairia em caravana pela cidade, convidando a população para um desfile de Natal que ocorreria no dia seguinte.


Bruno Todeschini/Agencia RBS
Marli Regina decora o carro que, nesta época do ano, vira trenó e convida moradores para o evento

Trabalho diário

Marli Regina, 65 anos, dá alguns retoques no automóvel. Ela é uma das participantes do grupo que, todos os dias, às 17h, monta o cenário natalino e, às 22h, desmonta tudo para evitar chuva ou vandalismo. Moradora da região, ela se dedica a fazer, com papelão e sucata recolhida nas redondezas, itens de artesanato que enfeitam a rua.

— A criança não faz questão de luxo, quer atenção, quer carinho, quer alegria, aquela coisa mágica do Natal — diz ela, que desde a primeira edição ajuda na decoração. O que a motiva é a possibilidade de gerar recordações às novas gerações: — A gente quer que as crianças tenham uma memória afetiva daqui a 10 ou 15 anos.

Bruno Todeschini/Agencia RBS
Grupo enfeita o espaço com luzes, meias e adornos pendurados em árvores

Mas não são só as crianças que são envolvidas pela atividade. Marilê Prates, 82 anos, e Pedro Pisone, 67, que ajudam na organização da rua, exibem uma distinção em uma faixa em seus ombros: Mister e Miss Simpatia. Elemento que não falta na Major Alberto Bins.

— O Natal puxa lá do fundo das pessoas aquela necessidade da convivência social — afirma Marli Regina.

O casal Marta Rocha, 56 anos, e Marco Aurélio Carvalho, 60, também exibe orgulhosamente os prêmios que recebeu nas edições anteriores do evento: são tricampeões no concurso de casa mais iluminada da rua, que avalia o clima natalino em residências do bairro. Este ano, eles buscam o tetracampeonato. Hellen ressalta um importante critério de avaliação: 

— Não é só a casa que precisa estar iluminada, mas as luzinhas do coração

O casal leva isso a sério. Em edições anteriores, um familiar tocando música ao vivo ajudou a conquistar a comissão avaliadora.

Espírito de fraternidade

Hellen lembra do início do Natal Iluminado: ela passava de porta em porta e convidava os vizinhos para a ação. Quatro edições mais tarde, a união da rua vem trazendo frutos.

Jaqueline Teixeira, 61 anos, que mora na Rua Major Alberto Bins desde o seu primeiro ano de vida, concorda com isso:

— Hoje em dia, as pessoas, os vizinhos, mal se cumprimentam. Mas aqui não, somos como uma família. Através dessa convivência, nós vamos melhorando as relações. Eu adoeci, eles fizeram comida e foram me levar. Porque às vezes tu não tens um familiar pra te levar, e tu encontra essas pessoas. Tu te sentes acolhido, se sente em casa.

Enquanto olha a filha, Ana, brincar, Camila Iwasaki também vê os benefícios que a convivência com a vizinhança trouxe para a pequena:

— Ela está fazendo amizades, brincando, interagindo com as outras crianças, é muito bom isso. Porque, hoje em dia, fica todo mundo trancado, cada um na sua casa.

Hellen e o grupo já pensam nas ideias para a edição de 2026, sempre com foco em manter a vizinhança unida, “sorrindo e celebrando junto”. Enquanto observa o movimento, Jaqueline aponta: 

— A rua é nossa. Temos que retomar o nosso protagonismo.


*Produção: Breno Bauer

Confira mais fotos do local: 



MAIS SOBRE

Últimas Notícias