Educação



Greve na rede estadual

"Não temos condição nenhuma", diz secretário interino de Educação sobre reajuste do magistério

Luis Antônio Alcoba de Freitas diz, em entrevista, que, para outras pautas reivindicadas pelo Cpers, quer apresentar soluções 

16/05/2016 - 21h41min

Atualizada em: 16/05/2016 - 22h52min


"Turbilhão" é o termo que Luis Antônio Alcoba de Freitas utiliza para definir o desafio que está enfrentando, e não é exagero. Coube a ele assumir interinamente a sempre complicada Secretaria Estadual da Educação em um momento especialmente delicado: escolas estão ocupadas pelos alunos, uma greve foi decretada pelo Cpers e o titular da pasta, Vieira da Cunha, saiu em férias e ninguém sabe se volta para reassumir o posto. Na entrevista a seguir, Freitas conta como está lidando com a crise.

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O secretário Vieira da Cunha está em férias e não se sabe se vai voltar ou não. Isso complica enfrentar a atual crise?
Não, estamos contando com o apoio do governo. O secretário Vieira já tinha marcado essas férias lá no início do ano, uma viagem que já tinha marcado com antecedência e que não tem nenhuma relação com a eventual saída dele. Deu a casualidade de ser neste momento, mas nós estamos aqui, toda a equipe de diretores da secretaria de Educação, professores experientes, no sentido de enfrentar, de conversar com a comunidade e com o Cpers.

O que o governo pode apresentar ao Cpers?
A pauta principal do Cpers diz respeito ao reajuste e ao piso salarial, mas eles colocaram outras questões internas na pauta de reivindicações, que dizem respeito a difícil acesso, a vacinação dos professores, ao IPE, à refeição dos alunos.

Seriam essas as pautas para as quais o governo tentaria apresentar uma solução?
Exatamente. É de conhecimento de todos que o Estado não tem as mínimas condições de proporcionar qualquer tipo de reajuste. O Estado sequer consegue honrar o pagamento dos salários em dia. Há necessidade de parcelar. Como é que vai se dar um reajuste para uma categoria tão volumosa como é a do magistério? Não temos condição nenhuma.

Então não vai ser oferecido reajuste e vai se tentar oferecer outras questões?
É isso que queremos conversar, explicar. Por exemplo, a questão do difícil acesso, que eles colocam que vai haver diminuição. Queremos colocar o enfoque do governo. A legislação do difícil acesso é muito antiga, e muitos municípíos já emanciparam, já têm asfalto, já têm toda uma infraestrutura. Não exisitiria mais a necessidade de pagamento de difícil acesso, e isso o Tribunal de Contas vem apontando nas suas auditorias.

E o governo quer rever esses pagamentos?
Queremos adequar as portarias sobre difícil acesso à realidade atual, para pagar difícil acesso somente naquelas situações em que há difícil acesso mesmo.

O governo também está enfrentando a questão das escolas ocupadas, que está ligada à reivindicação dos alunos por infraestutura...
Por infraestrura, por autonomia financeira – que é a aquela verba mensal que é paga às escolas para se manter –, pela questão dos professores e também pela rede física, aqueles problemas que acontecem na estrutura das escolas.

E que respostas o governo vai dar a essas reivindicações?
Quero responder item por item. No caso dos professores, o que ocorre é que, no ano passado, tivemos 6,3 mil afastamentos, seja por aposentadoria, por abandono da rede ou por falecimento. E a única secretaria de todo o governo que teve a possibilidade de nomear e contratar, no caso professores, no ano passado e neste ano, foi a Secretaria da Educação. Em 2016, para cobrir os claros, fizemos um reposição de 744 professores. Então estamos adotando providências. E com relações às ocupações, estamos procurando conversar com alunos e professores para procuram tentar atender às reivindicações. Além disso, logo que foi implementada a folha de pagamento, na semana passada, o governo começou a fazer outros pagamentos e deu prioridade absoluta à educação. Foi paga a autonomia financeira de março, e temos sinalização da Fazenda de que, assim que os cofres suportarem, nesta semana ou na outra, vamos ter o pagamento da autonomia financeira de abril.

Esse recurso resolveria o que está sendo reivindicado?
Em parte, sim. Mas algumas necessitariam obras que teria de ter projetos, que demandariam mais tempo.

O governo tem como dar uma resposta a isso?
Temos como dar e temos dado resposta em várias escolas. Temos recursos de convênios e também um empréstimo do Banco Mundial que nos possibilitam fazer reformas. Para este ano de 2016, temos alocados cerca de R$ 216 milhões para reformas em escolas. Estamos fazendo uma série de obras.

Esse investimento mudaria o quadro da estrutura?
Vai melhorar significativamente. Mas é lógico que não teremos como atender a totalidade das escolas. Temos feito priorizações. E temos muitas obras emergenciais. No temporal do final de janeiro, tivemos 88 escolas avariadas e conseguimos que, no início do ano letivo, apenas duas não estivessem em condições. A rede física das escolas do Rio Grande do Sul é muito envelhecida e necessita de intervenção.

Isso significa que os alunos têm motivos para estar descontentes?
Com certeza. E é por isso que temos feito o diálogo com os estudantes. Tem de haver diálogo, porque a escola é dos alunos.

O senhor não recrimina o movimento das ocupações?
O que acontece é que, na verdade, os maiores prejudicados com essas ocupações são os próprios alunos, pela impossibilidade de acontecerem as aulas. Estamos sensibilizando para isso.

E o secretário Vieira da Cunha volta?
Volta. Na próxima segunda-feira, ele reassume. Não cheguei a conversar com ele após o boato de que teria pedido demissão. O que sei de real e concreto é que haveria uma reivindicação envolvendo as escolas de turno integral, mas que isso foi superado. O governador Sartori assinou decreto autorizando o aumento do atendimento nas escolas de tempo integral. Acho que não chegou a haver um pedido formal de demissão.

Chegou ao senhor, do Palácio Piratini, alguma confirmação da volta de Vieira da Cunha à secretaria?
Sim, sim. O próprio secretário Vieira tem dito que preferia continuar na Secretaria de Educação, para concluir os projetos em andamento e deixar a sua marca. Mas a gente sabe que ele é um nome cogitado para concorrer à prefeitura de Porto Alegre e há pressão do partido dele para que assuma a candidatura. A política é dinâmica. Não sei o desdobramento disso. Quem vai poder dizer isso é só o secretário Vieira no seu retorno.

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