Tipo dona Picucha
Mais independentes, as vovós sonham e realizam
Assim como a personagem de Fernanda Montenegro em Doce de Mãe, idosos levam vidas ativas e independentes
Toda quinta-feira, na RBS TV, uma senhorinha cheia de vida encanta o Brasil. É Dona Picucha, papel de Fernanda Montenegro em Doce de Mãe, produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre e pela TV Globo. Mais do que uma personagem da ficção, ela representa uma parcela numerosa da população: a dos idosos que levam uma vida ativa e independente. Namoram, trabalham, divertem-se e não abrem mão da privacidade. Por isso, muitos moram sozinhos - tendência que vem crescendo nas últimas décadas.
O Diário Gaúcho encontrou uma Picucha da vida real para mostrar que esse time não perde o pique. Um geriatra aponta a importância da socialização e os cuidados da família com aqueles que vivem sós, e pesquisas revelam: a população idosa está crescendo e querendo um espaço só seu!
Cheia de vida
Teresa Koziol, 72 anos, moradora do Bairro Cavalhada, na Capital, faz parte das estatísticas. Viúva, mãe de duas filhas e avó de dois netos, há 20 anos ela mora sozinha e não abre mão da sua independência.
- Enquanto eu tiver condições e me sentir bem, vou continuar no meu apartamento. Me cuido muito para estender ao máximo esse prazo - afirma a vovó.
Teresa admite que quase não assiste ao seriado de Dona Picucha, mas tem muito em
comum com a personagem. Especialmente, na vivacidade, característica marcante dos idosos.
- Eu faço aula de dança, ginástica, viajo, dirijo e, todos finais de semana, vou ao baile no CTG. Foi lá que conheci meu namorado, o Mário. Faz três meses que estamos "nos" namorando - conta, sorridente.
Ela trabalha como cabeleireira, manicure e depiladora na academia de uma das filhas. E ainda encontra tempo para fazer artesanato e bordado.
Mais numerosos e ativos
O ponto de partida de Doce Mãe, exibido em 2012, foi a decisão da protagonista de morar sozinha. Na vida real, nos últimos 20 anos, o número de idosos que tomaram a mesma decisão cresceu 200% no Estado. Na Capital e Região Metropolitana, este percentual sobe para 227%, segundo o IBGE, que considera pessoas acima de 60 anos.
Os números acompanham o fenômeno no Brasil, onde, neste período, a população idosa que mora sozinha triplicou, passando de 1,1 milhão para 3,7 milhões. Os dados
revelam, ainda, que este fenômeno é maior entre as mulheres. Só na Capital e Grande Porto Alegre, em 2012, para cada idoso que morava sozinho, havia três mulheres nesta
condição.
A população idosa também cresceu nas últimas décadas, o que não surpreende o geriatra Vitor Pelegrim, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre:
- Estamos alertando a população e o poder público sobre isto. As pessoas estão envelhecendo com mais saúde em função dos avanços da medicina e das atividades que praticam. Se cuidam mais e, por isso, vivem mais.
Incentivar os idosos a praticar atividades que os divirtam e mantenham eles ocupados é fundamental para a qualidade de vida.
- Se eles param, vão apagando, ficando limitados e entrando num processo de deterioração - destaca Vitor.
O geriatra alerta que a decisão de um idoso de morar sozinho deve ser tomada com a família.
- É importante que tenham meios de monitorar esse idoso, mesmo à distância. Muitas famílias se organizam para morar perto, no mesmo terreno ou prédio. Os contatos devem ser frequentes - diz o médico.
É o que fazem as filhas de dona Teresa, Sandra e Simone. Elas contam que, com a mãe, foi um processo natural, desde que ela ficou viúva, e, mais tarde, as duas se casaram.
● Ficar de olho para não levar susto
- Nunca tivemos susto. É claro que, com o avanço da idade, vamos ter que rever esta questão porque sabemos que ela terá limitações - avalia Simone.
Ela e a irmã estão de olho.
- A mãe mora a 1km da minha casa e trabalha comigo, então, vou acompanhando. Ligo todo final de semana, sei o horário do baile, tenho amigos no condomínio onde ela mora que ficam de olhoe têm meus telefones - conta Sandra.
- Incentivamos ao máximo que ela se mantenha ativa.
MOVIMENTEM-SE!
● O Sesc oferece diversas atividades para pessoas acima de 60 anos. Entre elas, esportes, turismo, ações sociais e artísticas. Informe-se pelo site sesc-rs.com.br, no link Assistência, ou nas unidades do Sesc.
● A prefeitura da Capital também realiza atividades para a terceira idade. Informe-se:
3289-4862 (Secretaria Municipal de Esportes) e 3289-6693 (Conselho Municipal do Idoso).
Idosos na Capital e Região Metropolitana
1992
● Total de idosos: 240,4 mil
● Moravam sozinhos: 32,9 mil
2012
● Total de idosos: 572,1 mil (mais 137%)
● Moravam sozinhos: 107,6 mil (cresceu 227%)
* Dados da Pesquisa Nacional por amostra de domicílio do IBGE, considerando pessoas acima de 60 anos.