Cinema
Renda-se ao Alemão! Filme brasileiro retrata drama de cinco policiais
Não é Tropa de Elite nem Cidade de Deus, mas toda a tensão dos dois filmes policiais brasileiros mais bombados dos últimos tempos está em Alemão.
Imagine a situação: você é um policial trabalhando infiltrado no meio da bandidagem no Complexo do Alemão. O bicho está pegando, e o lugar vai ser ocupado pela polícia. É neste momento que Playboy (Cauã Reymond), que está louco pra deixar de ser bandido e virar criminoso, descobre a sua identidade e passa a caçá-lo pelas vielas da favela!
É por este drama que passam cinco policiais no filme Alemão, que chegou aos cinemas na quinta-feira, inaugurando o novo dia de estreias das salas. Eles são interpretados por Caio Blat, Gabriel Braga Nunes, Marcelo Mello Jr., Milhem Cortaz e Otávio Müller e deixam o público o tempo todo prendendo a respiração! O filme é de muita ação e suspense, mas também diverte - Playboy tem sacadas ótimas - e emociona com três histórias de amor.
Para saber se eles conseguem sair vivos ou não do Complexo do Alemão, só assistindo ao filme. O Diário Gaúcho acompanhou a sessão do longa para jornalistas no Rio de Janeiro, nesta semana, e, depois, bateu um papo com os atores e com o diretor de Alemão. Empolgados, todos já estão pensando na sequência do longa.
- Quem já viu o filme sabe quem continua no elenco - faz graça o diretor, José Eduardo Belmonte.
Os principais atores do longa contam os bastidores da produção e as suas novas apostas.
Nova tropa
Não é Tropa de Elite nem Cidade de Deus, mas toda a tensão dos dois filmes policiais brasileiros mais bombados dos últimos tempos está em Alemão.
- Como sei que tem grande referência desses filmes, procurei fazer um mais dramático, mais reflexivo, com questões humanas. Queria fazer um filme sobre o grande tema brasileiro que é o abismo social - explica o diretor do longa, José Eduardo Belmonte.
A história começa quando vaza a identidade de policiais infiltrados no Complexo do Alemão, instalados no local para uma missão de inteligência. A informação chega aos ouvidos de Playboy, chefe do tráfico na comunidade, e isso dá início a um jogo de gato e rato pelas vielas da favela. Tudo acontece poucos dias antes da ocupação militar do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, ocorrida em 2010. O filme é baseado em fatos reais, mas a história dos policiais é pura ficção.
Paralelamente, o delegado Valadares (Antônio Fagundes) fica de mãos atadas ao tentar obter informações sobre os agentes.
Cauã Reymond, o bandido Playboy
Cauã Reymond foi além em Alemão, filme que marca os seus dez anos de cinema. Não é herói nem galã, mas sim o chefe do tráfico na favela, Playboy. Embora seja impossível ele ficar feio, Cauã também não está tão bonito como sempre.
- Não tô "gatito", né (risos)? E o que é aquele cabelo estranho? - faz graça Cauã, jogando charme.
Não era para ele ser o bandido, mas um dos policiais. Só que o ator que faria o Playboy não pode fazer, e Cauã pediu o papel. Afinal, em abril estreia O Caçador, na TV Globo, e o ator dará vida a um policial nesta série.
- Pensei: "vou estrear um policial no cinema e outro na tevê?". E vinha fazendo mocinhos, estava querendo me desafiar como ator. Eu queria fazer mesmo era o mauzinho - explica.
Cauã vive um grande momento profissional e sem acomodação: ele destaca que ainda tem muitos sonhos. Um deles já foi realizado: também é produtor associado de Alemão.
- O Brad Pitt ganhou o Oscar este ano pela primeira vez como produtor, por 12 Anos de Escravidão. Penso também em fazer projetos em que eu nem esteja como ator- adianta o artista.
Sem baile
O filme mostra a veia cômica de Cauã. Uma das frases divertidas que Alemão diz é "a gente precisa deixar de ser bandido para virar criminoso", que Cauã ouviu de traficantes do Alemão durante os dois dias que ficou lá para compor o personagem - na ocasião, também conversou com policiais e bateu um papo com o jogador Adriano, que tomava uma cervejinha num bar. Foi Cauã também quem deu apelidos aos comparsas de Playboy.
- Eu inventei todos eles - gaba-se o ator, que salienta não ter frequentado os bailes na comunidade para a preparação.
Além de Alemão e O Caçador, Cauã também está no elenco do longa Tim Maia, que estreia no próximo semestre. Ainda vai filmar Língua Seca, mas só depois de tirar férias:
- Quero dar uma parada e viajar com o meu pai (José Marques). Ele está decidindo o que vamos fazer. Vou sair na Copa do Mundo porque o Rio vai estar um caos!
Na vida pessoal, tudo vai se ajeitando, embora Cauã ainda não assuma o relacionamento com Isis Valverde. Sente-se "casado" com O Caçador e com a filha, Sofia, um aninho.
Caio Blat (Samuel)
Intérprete de um dos policiais infiltrados, Caio Blat não curtiu muito as filmagens!
- Homens bastante feios num espaço muito pequeno! Foi uma das piores situações nas quais eu já me coloquei na minha carreira. Foi um filme horrível de fazer, mas muito legal de assistir!
Passado o desabafo, Caio conta que está cheio de planos: em duas semanas, estreia novo filme: Entre Nós. E a proposta que fez à Globo de uma minissérie baseada no romance Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, está sendo desenvolvida pela emissora.
- Em vez de fazer remakes, tem que fazer grandes obras da literatura mundial de um jeito moderno - discursa o ator, que também está no elenco de Joia Rara, como o monge Sonan.
Caio defende esta ideia como uma maneira de salvar a tevê aberta:
- Acho que a tevê aberta está acabando e, por isso, tem necessidade de se reinventar. Ibope da tevê aberta nem deveria mais ser divulgado. Quando entrei na Globo, 15 anos atrás, a novela das sete dava 45 pontos de Ibope. Agora, às vezes, não dá 20. Acho que vai diminuir mais um pouco e chegar no piso. Por isso, tem de pensar em outras plataformas!
Antônio Fagundes, o delegado Valadares
O personagem de Antônio Fagundes aparece pouco no filme, mas costura toda a história. Dos 18 dias de filmagens que Alemão teve, o veterano participou de dois. Não fez laboratório, afinal, "quem faz laboratório é químico", e buscou inspiração na sua trajetória.
- Eu sou ator há 48 anos e costumo dizer que eu me preparo há 48 anos para cada personagem. Meu filho (Bruno Fagundes) tem uma frase que eu adoro: trabalho do ator é observação e compaixão. Então, se você observou ao longo da sua vida outras vidas e tem compaixão, você já tem uma boa preparação - destaca o ator.
Com orçamento de R$ 5 milhões _ um troco se for comparado às produções de Hollywood -, Alemão é um caminho para o cinema brasileiro, na opinião de Fagundes.
- Já tinha feito filme de guerrilha, como eu chamo este tipo: filmado em 18 dias e com baixo orçamento. Acho isso maravilhoso. O filme tem que tentar se pagar com a bilheteria e isto só é possível se o orçamento for baixo. Ao mesmo tempo, concentrar a filmagem faz com que você dobre a atenção sobre o roteiro, que eu ainda acho que é o problema do cinema brasileiro.
Gabriel Braga Nunes (Danilo)
Gabriel Braga Nunes sacou o celular, procurou um arquivo e mandou ver:
- Eu defino o meu personagem como uma tentativa patética de sensatez no meio de uma situação ensandecida.
Ele é um dos policiais, e Gabriel conta que o resultado do que aparece na telona é fruto de jogos de improvisação.
- Nós tínhamos neste elenco uma mistura de temperamentos que servia muito bem à situação dramática, e Belmonte teve muita habilidade, criou improvisos para tentar extrair o melhor dessa mistura - conta Gabriel.
Brilhando também como o Laerte, da novela Em Família, Gabriel só tem olhos para ele:
- Não é questão de preferência. (a gravação de novelas) Dura muito tempo.
Mariana Nunes (Mariana)
Nem Isis Valverde nem Dira Paes! A nova musa de Cauã Reymond vem de Brasília, tem 33 anos, é negra e linda como as outras duas, de Amores Roubados. Mariana Nunes protagoniza o filme e é a grande paixão de Playboy.
- Musa do Cauã? Ai... Cauã é uma pessoa incrível, foi muito bom trabalhar com ele, superdedicado, tivemos muito trabalho durante a preparação. Apesar de ser uma ceninha só junto, a gente teve que construir toda a história da Mariana com o Playboy.
Ele foi um grande parceiro - derrete-se a novata, que já anunciou a boa notícia: está solteiríssima!
Mas quem é esta mulher? Ela mesmo apresenta-se:
- Eu venho do teatro, em Brasília, onde me formei na faculdade de artes. Trabalhei muito com publicidade. Há alguns anos, moro no Rio. Meu primeiro filme foi lançado em 2009, somente em festivais, o Homem Mau Dorme Bem. Depois (em 2011), fiz Febre do Rato.
Alemão dá a largada na carreira nacional de Mariana, que estreia ainda neste ano outros filmes: Joãozinho e Pelé, Birth of The Legend, produção internacional na qual dá vida à mãe do Rei do Futebol. Na tevê, ela fez somente participações, mas está ansiosa para um convite que lhe dê oportunidade de mostrar o seu talento.
* A repórter viajou ao Rio a convite da Produtora RT.