Trama violenta
É vale-tudo ou novela? Psicólogos analisam violência de Em Família
Autor de Em Família, Manoel Carlos deve estar escutando muito o funk Beijinho no Ombro, da Valesca Popozuda, que repete mil vezes: "bateu de frente, é só tiro, porrada e bomba". É que o novelista tem apostado em várias cenas de violência para contar a sua história.
Tudo começou com o embate, logo nos primeiros capítulos, entre os personagens Laerte (Guilherme Leicam) e Virgílio (Nando Rodrigues) e segue firme e forte nas brigas entre mãe e filha: Helena (Julia Lemmertz) já deu um tapa no rosto de Luiza (Bruna Marquezine) por conta do envolvimento com Laerte (nesta fase, interpretado por Gabriel Braga Nunes).
Manoel Carlos expõe uma situação que tem se repetido nas últimas novelas das nove: o aumento das cenas de violência. Será que tanta briga é retrato do que se vê nas ruas ou um incentivo a resolver tudo na base da agressão física?
Retratos da Fama conversou com psicólogos especializados em violência e com o professor de comunicação Antonio Hohlfeldt para entender esta tendência.
Mas não podemos negar que os acertos de contas entre mocinhos e bandidos são muito esperados pelo público.
O retrato da sociedade
Na segunda fase de Em Família, Laerte enterrou o "amigo" Virgílio e foi casar-se com Helena (Bruna Marquezine) com a consciência tranquila, numa boa! Vinte anos depois, Virgílio agora, Humberto Martins) teve direito a dois acertos de contas com o flautista (Gabriel Braga Nunes): deu uma surra nele em Goiânia e, depois, no Galpão Cultural, com direito a muitos chutes e socos no rosto.
Outros personagens da trama das nove mostram que a pancadaria está rolando mais solta nas novelas: Vanessa (Maria Eduarda de Carvalho) e Marina (Tainá Müller) saíram no tapa no estúdio da fotógrafa e Jairo (Marcello Melo Jr.) tem surtos e parte pra cima de qualquer um que atravessar o seu caminho. Além do estupro que Neidinha (Jessica Barbosa) sofreu!
Até isso tem um lado bom
Professor de comunicação da Puc-RS, Antonio Hohlfeldt nãoacredita em banalização da violência. Para ele, o que aparece na novela Em Família é um retrato da sociedade.
Segundo Hohlfeldt, toda esta violência é uma tentativa da trama de dialogar com a realidade, como se fosse um reflexo da vida. E vê um lado bom nisso:
- O problema não é ter violência na novela, mas o enfoque que é dado. Se aparece alguém denunciando um abuso, por exemplo, as pessoas que assistem vão ter coragem de fazer o mesmo. Este debate tem de ser levado mais a sério!
Só incentiva quem já é violento
Acostumado a lidar com casos de violência, o psicólogo Fernando Elias José relata que histórias como as de Em Família são contadas no seu consultório. Pessoas muito estressadas explodem por qualquer motivo na vida real:
- Acho que as novelas mostram o que acontece nas ruas. É só olhar o facebook e ver a quantidade de vídeos de brigas que as pessoas postam. Mas a trama não vai estimular aquele que não tem violência guardada dentro de si, somente as pessoas que apresentam este viés na personalidade.
A psicóloga Denise Falcke faz coro ao discurso do professor Antonio. Para ela, o lado bom das brigas na tevê é incentivar as pessoas a não sofrer o mesmo.