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Atitude à prova de preconceito contra a beleza negra

Um dos maiores preconceitos não é com relação à cor da pele, mas com os cabelos afros naturais. A professora Lisiane Niedsberg Corrêa, 33 anos, vive isso na pele, mas a sua convicção de vida é bem maior do que a discriminação

01/08/2014 - 08h27min

Atualizada em: 01/08/2014 - 08h27min


Alessandra Noal
Alessandra Noal
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​LISI SE ASSUMIU E TEM ORGULHO DAS SUAS RAÍZES

A professora de português Lisiane Niedsberg Corrêa, 33 anos, do Parque Santa Fé, em Porto Alegre, conta que é comum passar por algumas situações constrangedoras desde que assumiu sua cabeleira poderosa:
- Costumo ser perseguida pelos seguranças quando vou ao supermercado, ou sou  a última a ser atendida nas lojas. Isso, quando falam comigo, o que não acontecia quando eu era lisa ou usava  mega - lamenta.
Apesar do sobrenome de origem alemã,  Lisiane foi educada para valorizar-se e ter orgulho de suas raízes africanas:
- A minha avó (Ariocilda Soares Niedsberg, 99 anos) sempre deixou claro que somos negros (a família), explicando que o sobrenome não muda a cor da pele.
Somente em 2012, quando ingressou no mestrado em Educação, é que a professora percebeu que, apesar de militar contra o racismo e o preconceito desde a adolescência, não assumia a sua identidade por inteiro.
- Tive que optar entre investir no estudo ou continuar pagando para ter um cabelo que não era meu. Resolvi tratar em casa e foi aí que percebi que tentava me encaixar nos padrões estéticos porque não me aceitava - confessa.

Muito mais do que imagem

Os tratamentos para domar os fios começaram aos 14 anos com relaxamento:
- Quando eu era criança, usava trança por causa do volume como todas as meninas negras de Rio Grande - relembra Lisi, que nasceu e viveu lá até a fase adulta.
Essa prática, segundo ela, é comum até hoje, inclusive em Porto Alegre, e virou costumeira entre meninas e mulheres negras para evitar bullying.
- Ninguém assume, e muitas mulheres nem percebem que não se aceitam. Mas é mais uma atitude carregada de preconceito assim como falar que negro tem cabelo ruim, como já ouvi  de cabeleireiros -  polemiza, para criticar ainda mais:
- E várias militantes negras usam os cabelos alisados.
Para Lisi, a causa defendida não coincide com a imagem dessas mulheres,  porque o preconceito está tão introjetado. Essa é uma das lições que a professora tenta passar para seus alunos através da sua tese de mestrado "Desvendando os problemas sociais - rolezinho educativo":
- O estudo é baseado na Lei 10639/2003 que, apesar de ser pouco aplicada, obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.  
 
 
Missão que passa pela educação
Através do projeto Vó Chica, ela resgata, em sala de aula, a história das mulheres negras. Durante um sábado por mês, cerca de 20 a 30 alunos do ensino médio de Viamão trabalham como voluntários na sede deste projeto, na Vil Safira. Sob a coordenação da professora, eles dão oficinas de informática, canto e teatro afro para crianças negras e carentes da comunidade.
- Também dou aula e já ouvi um aluno de dez anos dizer que não era negro. Eu disse: "teu pai e tua mãe são negros. Olha a tua cor, tu também é!". E o menino respondeu: "eu não quero ser negro porque tudo que é negro é pobre!" - relata Lisi.
Acabar com o preconceito é a missão dessa professora que também fala sobre cabelos com as alunas e sobre a importância de valorizar suas origens através da beleza, mas a tarefa não é fácil:
- Nem todas estão preparadas para se aceitar, tamanho o preconceito que se instituiu.
 Ainda assim, muitas até começaram a soltar os cabelos vendo a professora como exemplo.
 
  
Denuncie
A coordenadora da Igualdade Racial do Estado, Eliane Almeida de Souza, lembra que racismo e preconceito são históricos, e qualquer ofensa ou humilhação devem ser denunciadas. Primeiro, a vítima deve registrar boletim de ocorrência na delegacia mais próxima e, depois, encaminhar para abertura de processo ou outras providências em órgãos competentes como:

Secretaria da Justiça e Direitos Humanos: Borges de Medeiros 1501, 11º andar , Centro 3288-7373

SOS Racismo, ong Maria Mulher: Avenida Moab Caldas, 2035, Santa Tereza 3219-0180

Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul (Codene): 7 de Setembro, 713, Centro, 3288-6679

 

 


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