Coluna da Maga
Magali Moraes: "Dança do sol"
Alguém lembra daquela bola amarela e brilhante que aparecia no céu? Tinha até uns raios bonitos. Como era mesmo o seu nome? Sol? A gente se sentia mais animado e disposto, usava óculos escuros pra enxergar por causa da claridade. Não era em Porto Alegre que o pessoal tirava fotos do sol desaparecendo no Guaíba? Mas ele sempre voltava no dia seguinte. E céu azul, cadê essa raridade?
São Pedro, se você estiver me lendo, eu peço pra acabar com a brincadeira. O povo perdeu a paciência, a casa, os móveis, tudo. Já choveu por uma década, essa água vai fazer falta no verão. Dá pra fechar a torneira e apertar bem o registro? Toalha seca virou artigo de luxo. Tem gente sem meias limpas pra vestir e, o que é pior, sem teto pra morar. Estão andando de barco em vez de ônibus, onde já se viu uma coisa dessas. Aliás, a gente viu acontecer faz pouco.
Secando
Uma lembrança boa que tenho é dormir com o barulhinho gostoso da chuva. Agora é pesadelo. Área de serviço virou cenário de guerra. As calçadas parecem campo minado: a gente pisa numa lajota solta e explode água no pé. Motor de geladeira não aguenta mais bancar a secadora. E quem tem secadora, não sabe se ri ou chora com a conta de luz. Será que adianta reunir todos os secadores do Grêmio e do Inter e pedir que eles sequem como nunca?
E tem o perigo das varetas. Não sei caminhar com guarda-chuva aberto, vou furando o olho de todo mundo com aquelas armas pontudas. Me sinto uma adolescente que cresceu demais e perdeu a noção do espaço. Olhe bem pra minha foto ali em cima, gravou o rosto? Então fuja de mim, especialmente em temporal. Atravesse a rua e proteja seus olhos. Falando nisso, esqueci o guarda-chuva em algum lugar. Só me resta procurar no YouTube um vídeo ensinando a fazer a Dança do Sol. Se parar de chover é porque deu certo.