Coluna da Maga
Magali Moraes: "Só não me peça pra fazer conta de cabeça"
Dois mais dois
Me peça pra contar uma história, pintar parede, dirigir trator, qualquer coisa. Só não me peça pra fazer conta de cabeça. Sou um fiasco, passo vergonha. O que a ciência não explica: fui a maior CDF e sempre tirava notas altas em matemática. Como pode eu ter me tornado um zero à esquerda no setor numérico?
Quando terminei o colégio e escolhi trabalhar em comunicação, eu desejei tanto me livrar da matemática que deletei tudo do cérebro. Talvez seja trauma da professora que nos fazia repetir em coro a tabuada completa e cálculos impróprios para menores de 18 anos. Eu acompanhava até certo ponto, depois apelava pro truque de cantar o hino: só mexia a boca.
Leia todas as colunas da Magali Moraes
Me dividindo
Hoje sei que não foi inteligente me afastar dos números. A gente precisa da matemática a vida inteira pra não ser enrolada em troco, banco, salário, tema de filho. Numa liquidação, por exemplo, se eu tiver que calcular o desconto em cima do preço da etiqueta é como um balde de água fria, acabou a alegria. Às vezes até me arrisco sem a ajuda de instrumentos, mas desconfio do resultado e vou conferir na calculadora.
Por isso eu acho lindo ver alguém fazer conta de cabeça. Já reparou que a pessoa geralmente olha pra um ponto fixo no ar, como se os cálculos estivessem acontecendo em 3D na sua frente? Fico imaginando números gigantes se movimentando e o resultado surgindo com efeitos especiais. Também invejo quem pega papel e lápis e calcula rapidinho. Nem sei por onde começar, prefiro desenhar ou inventar rimas.
Matemática comigo só se for inspiração pra escrever um parágrafo final bonitinho, dizendo que o importante é somar amizades, dividir sonhos, multiplicar sorrisos e jamais diminuir a esperança (raiz quadrada ou fórmula de Bháskara não rendem poesia). Agora você me ver fazendo conta de cabeça é como diz meu filho: calcula a chance.
* Diário Gaúcho