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Quem são os Reis da Matinê que agitam os bailes de Porto Alegre
Artistas são atração em bailes, com muita história para contar e repertório sob medida para o público que curte o agito vespertino

Nas tardes de Porto Alegre e da Região Metropolitana, artistas veteranos se juntam a novos talentos da música e destacam-se em um universo pra lá de especial: os bailes que bombam durante a tarde. Em plena luz do dia, com bailes com preços médios entre R$ 10 e R$ 20, e que começam a agitar o público às 15h, essas estrelas dos palcos animam centenas de pessoas salões afora.
Por trás de todo brilho, estão cantores com muita história para contar e uma característica em comum: o amor incondicional pela música. Durante uma tarde, acompanhamos de perto Jorge da Gaita (foto acima), Padilha, Rosane Torres & Ney Correa e Mano Moraes nos bailes da vida e comprovamos: não tem pra ninguém, eles são os reis da matinê!
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Jorge da Gaita: "Adoro fazer show para a veiarada"
Aos 61 anos, Jorge da Gaita tem um livro de histórias para contar. Antes de começar mais um baile na tarde de quarta-feira, no Clube dos Namorados, em Porto Alegre, ele passa em revista mais de 40 anos de carreira.
- Fiz muito show em rodeio, trabalhei com o Formiguinha, amigo do Gildo de Freitas (um dos parceiros e "desafiadores" de Gildo nas trovas) - relembra Jorge, natural de Palmeiras de Missões e morador do Bairro Azenha, na Capital.
Em vídeo, os Reis da Matinê:
Com sete discos lançados, ele agita a plateia e brinca com seu público.
- Adoro fazer show para a "veiarada", tocar as rancheiras. Brinco chamando eles assim, porque são queridos amigos e admiradores, é muito bom tocar para esse pessoal - explica Jorge.
A boa é curtir os bailes na matinê
Assédio numa boa
Os discos, aliás, são vendidos no próprio baile - "cerca de 20 ou 30" -, o que orgulha o cantor, que vive só da música. Dá uma média de dez shows mensais.
- Sou só eu e a minha prenda, e ela não gasta muito (risos). Comprei um apartamento na Azenha cantando. Só paro se der algum problema no lombo - comenta às gargalhadas, Jorge, que é casado há 35 anos com Santa Abreu, 60 anos, fiel escudeira sua nos shows.
O casal se conheceu quando ela, auxiliar de Enfermagem, teve que fazer um atendimento ao paciente famoso.
- É uma santa, mas, às vezes, ela quer me surrar (risos) - declara o eterno apaixonado, em tom de brincadeira.
E o ciúme e o assédio, como ficam? Jorge admite que existe, sim, mas que a parceira leva numa boa as fãs.
- Tenho ciúme, mas dentro dos limites - reconhece Santa.
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Onde conferir
- Clube dos Namorados (Carlos Barbosa, 739), às 15h, nas quartas-feiras, com média de 400 pessoas.
- Nas segundas-feiras, no Bar Caribe (Avenida João Pessoa, 905), média de 250 pessoas.
Padilha: "É a minha vida"

Aos 64 anos, Adair Padilha, conhecido como Padilha, traz o amor pelo instrumento de muito tempo. Nos anos 60, participava de um dos principais programas de auditório daqueles tempos, o Grande Rodeio Coringa, na Rádio Farroupilha.
A atração fez história, por ter em seu palco nomes como Teixeirinha e Gildo de Freitas. Já na época, Padilha começava a chamar a atenção tocando sua gaita.
- Ganhei um concurso de gaiteiros em 1972 - relembra o músico, natural de Tupanciretã e hoje morador do Bairro Santo Antônio, na Capital.
Fã de gaiteiros famosos
Há dez anos em carreira solo, Padilha recorda que excursionava com Nelson & Janete, que, na época, rivalizava com Teixerinha e Mary Terezinha:
- Depois, o Nelson desfez a dupla e montamos uma nossa.
No palco, a pedida dos fãs acaba sempre nas canções "mais gaúchas", o que não é problema para Padilha, fã de nomes como Albino Manique e de Samuca do Acordeon.
- E claro, do pessoal dos Serranos (foto) - elogia o gaiteiro, casado, pai de três filhos e que se orgulha de viver somente da música, há 40 anos:
- Hoje, faço cerca de dez bailes por mês. É a minha vida - define Padilha.
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Onde conferir:
- Clube dos Namorados (Carlos Barbosa, 739), nas quartas-feiras, com média de 400 pessoas.
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Rosane Torres e Ney Correa
Há 12 anos juntos, Rosane Torres & Ney Correa animam as tardes do Ypiranga Futebol Clube, às quartas-feiras. O show, repleto de sucessos da música nacional, dura entre 1h30min e duas horas.
- Comecei aos oito anos, quando criança não podia se apresentar em programas. Na época, cantava na TV Piratini. Depois, comecei a trabalhar com uma banda e nunca mais parei. Adoro. E vivo só de música - assegura Rosane, 54 anos, moradora do Bairro Jardim Itu-Sabará, na Capital
Com frequentadores dos bailes que viram fãs, ela é só alegria ao falar sobre a satisfação de trabalhar com um público de terceira idade.
- Fazemos muitas amizades. Eles nos procuram durante o show, pedem música - relata a estrela, que é solteira e não tem filhos.
Ney, baterista do Wando: "Foi inesquecível"
Já Ney, ou Valnei da Rosa Correa, 68 anos, do Bairro Rio Branco, em Canoas, começou a tocar bateria aos oito anos.
- Meu pai era capitão da Brigada Militar e administrava um baile no bairro. Uma vez, o conjunto Os Nativos tocava lá. Minha mãe foi até o salão e me viu tocando bateria de enxerido. Meu pai veio e quase me tirou pelos cabelos de lá! (risos) - recorda Ney.
Na semana seguinte, o pequeno já era atração do bairro e de outros bailes:
- Um amigo da família me levava com autorização e virou uma espécie de tutor.
Grande momento
O destino, porém, lhe reservava surpresas maiores. Depois de crescer, passar por várias bandas, Ney chegou a tocar bateria em um grupo que fazia shows no Gruta Azul, no começo dos anos 80.
E aí veio o grande momento da carreira, como baterista do Wando (falecido em 2012), de 1986 a 1995.
- Morei no Rio de Janeiro durante 11 anos, neste período. Foi inesquecível, era uma grande figura - comenta o artista.
Em 2003, o músico conheceu Rosane no bar Se Acaso Você Chegasse, na Capital, quando descobriram afinidades.
- Eu sempre tive interesse em boa música, pontualidade, arranjos de qualidade. E encontrei isso na Rosane - elogia o parceiro, generoso, que toca guitarra com a cantora.
Vivendo de música, Ney construiu uma prole numerosa: casado, tem cinco filhos, nove netos e cinco bisnetos.
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Onde conferir:
- Ypiranguinha (Princesa Isabel, 795), nas quartas e sextas, com média de público de 200 pessoas, e no Geraldo Santana, (Luís de Camões, 337), aos domingos, média de 250 pessoas.


Mano Moraes: "Eu era menor de idade e de tamanho!"
O caçula da turma dos reis das matinês, na verdade, já tem muita estrada. Mano Moraes, 29 anos, tem 18 de música. Aos nove, Ederson Machado de Moraes se virava nos 30.
- Com 11 anos, comprei a minha primeira gaita com a grana da venda dos churrasquinhos - relembra Mano, que toca no Canoas Tênis Clube, nas tardes de quarta-feira.
Na época, ele começou a tocar em bailes com licença do Juizado de Menores, acompanhado do pai, Vandir.
- Eu era menor de idade e de tamanho (risos). Ele me acompanhava para carregar a gaita - diverte-se com as lembranças Mano, que, há cerca de sete anos, toca o seu projeto Mano Moraes & Banda.
Fãs podem comprar CD no baile
Entre bailes diurnos e noturnos, sua agenda mensal emplaca uma média de 25 apresentações. Mas os shows à tarde têm são o xodó do músico.
- Os fãs e amigos acabam sendo fiéis ao artista. Eles vêm no baile, porque eu estou aqui - diz, sem falsa modéstia e com um sentimento de gratidão pelo carinho do público.
Atualmente, Mano divulga o segundo CD solo, que tem composições próprias. O trabalho, ele aproveita para vender nos bailes:
- Em dias bons, saem 100 cópias. Em dois, três meses que o disco foi lançado, já vendi cerca de 2,5 mil CDs.
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Onde conferir
- Canoas Tênis Clube (Avenida Inconfidência, 740), que tem uma média de público de 200 a 250 pessoas por baile, na primeira e terceira quarta-feira do mês.
- Na terceira sexta-feira do mês, no Baile da Vera (Rua Frederico Etzberger, 700), em Porto Alegre, cerca de 300 pessoas.
- Na última quarta-feira do mês, no Clube dos Namorados.
