Coluna da Maga
Magali Moraes: dia de lembrar
"-Mãe, tu puxa conversa com todo mundo!" Quando meu filho disse isso, logo após me ver de novo falando com alguém que a gente não conhecia, tive que rir. Respondi que é mais forte que eu, e imediatamente lembrei do meu pai. Ele era assim, se enturmava fácil, tudo era pretexto pra falar com conhecidos e quem ele nunca tinha visto na vida. Acho que o pai ia concordar comigo: dirigir a palavra a alguém é como uma isca que se joga ao mar, esperando fisgar um novo amigo.
Podia ser pescaria, gol do Grêmio, previsão de chuva, anedota antiga, notícias sobre o Imbé, tudo virava papo. E depois que nasceram os netos, aí mesmo que não faltava assunto. A profissão de dentista também o ajudou a treinar a oratória: já que os pacientes estavam sempre com a boca cheia de algodão, ele falava por todos.
Saudade
Hoje é Finados, dia de lembrar de quem a gente não consegue esquecer. Faz dois meses e dez dias que não posso mais contar as novidades pro meu velhinho amado. Incrível como esse pouco tempo pode parecer tanto. Talvez tenha sido a saudade que me fez enxergar essa semelhança. E se o passar dos anos me fizer esquecer detalhes preciosos da nossa história? Na última conversa que tive com meu pai antes dele morrer, contei que ia começar a escrever no DG três vezes por semana. Ele sorriu e ficou feliz por mim. Depois daquela sexta à noite, seu estado de saúde piorou e ele não falou mais.
Deixa que eu falo por ti, pai. Com a mesma alegria e espontaneidade. Cada vez que eu puxar papo com alguém, pelo simples prazer de conversar, vou lembrar (ainda mais) de ti e de como nós somos parecidos. Tu ia gostar de ver como aqui na coluna eu converso com tantas pessoas que nem conheço. É um legado ter facilidade pra se comunicar, e isso eu herdei de ti. Obrigada, pai.