Retratos da Fama
Sérgio Reis se declara para a gauchada: "O Rio Grande do Sul é minha vida"
Cantor, em entrevista exclusiva, fala um pouco de tudo, desde a sua paixão pelo Estado, critica a Lei da Meia-Entrada, critica a polêmica nudez do amigo Stênio Garcia e garante que está bem de saúde
Aos 55 anos de carreira, Sérgio Reis, 75, poderia muito bem não dar mais entrevistas, mas está acima de estrelismos. Serjão, como costuma ser chamado por amigos, é um dos mais queridos nomes da música brasileira e, entrevistando-o por 40 minutos, na Festa Nacional da Música, em Canela, dá para entender por quê.
O sertanejo não foge de nenhuma pergunta e, mesmo sendo um grande artista, revela toda a sua simplicidade - generoso com os amigos, bem-humorado e contador de histórias. Divirta-se com essa figuraça!
Retratos da Fama - Chama a atenção o jeito cordial com que trata todos. Esse é um dos segredos para o sucesso?
Sérgio Reis - Certamente. Se o artista começa a não atender (às solicitações) rádio, jornal, televisão, tem que apanhar ou trocar de secretário. Não tem coisa pior do que assessor que acha que manda no artista.
E o cara tem que saber: respeite e receba com carinho e educação a imprensa. São eles que tocam a nossa profissão para a frente. Se não é a mídia, amigo, como é que vamos tomar conta do Brasil deste tamanho?
Retratos - Você deve receber milhares de composições de gente anônima, mas também de quem já é conhecido. Alguma história curiosa?
Sérgio - Uma vez, eu recebi a canção Vida Boa. O Victor me mandou em um CD, mas não escreveu que era o Victor, da dupla com o Leo, apenas colocou um telefone. Liguei para o número, não era mais aquele, e eu não gravei.
Tempos depois, eles foram no meu programa de rádio (na Sulamérica, o Siga Bem Caminhoneiro, transmitido para mais de 180 emissoras no país), já com a música gravada.
O Victor chegou falando: "Serjão, olha a música que você não quis gravar, eu gravei." Eu disse: "Como assim, Victor, Vida Boa é sua?". Xinguei (risos), dei uns tapas nele e disse: "Não faça mais isso, rapaz! Você não disse quem era. Se eu soubesse, tinha colocado a Cia atrás de você para gravar. Mas você é o autor, merece o sucesso." Não foi culpa dele, foi inocência. Hoje, não faz mais isso.
Com participação de astros, João Bosco & Vinícius lançam CD com clássicos do sertanejo
Retratos - Quais são as suas referências musicais?
Sérgio - Quando eu era pequeno, ouvia Tonico & Tinoco. Mas, depois de conhecer Osvaldir & Carlos Magrão (foto abaixo), a minha vida virou uma gauchesca só (risos)!
Gravei muitos clássicos, como Guri (de César Passarinho), e também gravei com Os Serranos (várias canções). O Rio Grande do Sul é a minha vida.
Crédito: Divulgação
Retratos - Como um dos representantes da categoria dos músicos no Congresso Nacional, como deputado federal (PRB-SP) em primeiro mandato, qual é o principal problema que enxerga?
Sérgio - Essa invenção de que o estudante e os velhos têm que pagar meia (lei da Meia-entrada). Quem perde é o povo. Se o ingresso custa R$ 100, o cara aumenta para R$ 200, e o que paga meia-entrada paga os mesmos R$ 100. No fim, era o que a gente ia cobrar mesmo.
E eu não abaixo o valor do cachê dos meus shows. Se é para fazer isso, eu faço show em bar, fico bêbado com os caras, com mulher bonita na minha volta (está no segundo casamento, com a cantora Ângela Márcia, 56 anos). E não é isso que eu quero.
Retratos - Você é um cara que transita bem em várias áreas da música. Na Festa da Música, entregou troféu para João Bosco & Vinícius. Conhece e admira o som deles?
Sérgio - Ah, gosto deles todos. E acredito que João Bosco & Vinícius têm um trabalho diferenciado, são muito bons. E tem que respeitar cada artista. Cada um tem um jeito de cantar, cada um tem uma categoria para cantar, cada um tem a sua extensão de voz. Tem uns que cantam forte, lá em cima, na boa. Tem outros que cantam mais suave e é mais gostoso de ouvir.
Retratos - Sua paixão pela gauchada surgiu quando?
Sérgio - O Rio Grande do Sul é a minha vida. Fiz muita coisa aqui, já. Participei da gravação do DVD de Os Serranos, em 2008, e tinha uma grande amizade com o Rui Biriva (falecido em 2011. Nesse momento, Sérgio dá uma pausa). Esse faz falta, era um grande cara.
E tem o Edson Dutra (de Os Serranos), que é um gentleman e um grande amigo. Meu filho mais novo, Paulo, esteve em um churrasco na casa dele e disse: "Pai, agora entendo por que você gosta tanto dos gaúchos. Que educação, que cordialidade!".
Retratos - E a sua ligação com Santa Catarina?
Sérgio - Tenho uma ótima relação, me dou muito bem com o pessoal de lá. A cultura alemã deles é fantástica, a Oktoberfest é maravilhosa!
Crédito: Cristiano Estrela
Retratos - Você tem uma grande amizade com Renato Teixeira e Almir Sater, né?
Sérgio - Sim, de muitos anos. Somos vizinhos em um condomínio da Serra da Cantareira (em São Paulo). Eu tenho um terreno de uns 5 mil metros quadrados, o Renato tem um de uns 7 mil metros e o Almir de uns 25 mil. É o meu refúgio. O Chrystian (da dupla com Ralf, também é nosso vizinho.
Retratos - Você rodou o país com o show Amizade Sincera 2 com o Renato Teixeira. Segue na estrada?
Sérgio - É um show leve, muito bom de fazer. E vou te revelar: em 2016, eu, o Renato e o Almir faremos uma turnê pelo país. Mas é uma pena que o Almir não faça DVD, não tem nenhum até hoje. Ele diz: "Grandão, o cara compra o DVD, me leva pra casa, fica me vendo e não vem no meu show. Se o cara quiser, vem no meu show, onde eu estou e compra o meu CD."
Retratos - Como é a sua relação com as redes sociais?
Sérgio - A minha equipe atualiza as minhas redes. E não gosto de ficar postando a minha vida. Não vou tirar uma fotografia nu para ir parar na internet. Não sou contra, só não sou a favor para mim. Acho até uma falta de respeito mostrar a minha intimidade para alguém. O Stênio Garcia apareceu pelado, de frente, com a esposa. Para quê?
Acabou expondo a esposa, que é uma mulher bonita, decente e ele também. O Stênio é um grande ator, um grande amigo, um cara legal demais. Pensei: "Stênio, pra que isso?". Ele não precisa desse tipo de mídia, tem uma baita história na tevê e no teatro. O artista precisa ter esse cuidado.
Retratos - Aos 55 anos de carreira, a que atribui tanto sucesso?
Sérgio - Ser do jeito que sou, muito educado, e tenho uma paciência de Jó. Não ando em sala vip nem com segurança. Atendo a todos, não uso a minha carteira de deputado para ter prioridade nos aeroportos, por exemplo. Espero todo mundo entrar no avião, tiro foto com comandante, comissários... Não me escondo, essa é a verdade. Sou feliz assim.
Retratos - Que lembranças traz do começo de carreira?
Sérgio - Foi duro, gravei Coração de Papel em 1966. Mas vou te contar uma história: na época, o meu produtor foi levar o disco que tinha esta música a um dos principais radialistas da época. O cara estava almoçando, nem viu o disco e disse: "Não vou tocar, não. Igual a essa, toco 10". E seguiu almoçando. O tempo passou, e eu fiquei famoso.
Um dia, há uns 20 anos, ele era jurado no programa do Raul Gil, e eu fui participar. Pedi para tirá-lo do programa, ele saiu, mas falou que era meu fã, que não queria confusão, e pediu para conversar comigo, entender o que tinha me feito. Eu contei a história, ele quase chorou, pediu desculpas, disse que todos da sua família eram meus fãs. Abracei o cara, dei um beijo nele e fui jantar com ele e a sua família. Ele teve que tomar uma raquetada para aprender. Amigo, respeite quem está começando, você nunca sabe o que vai acontecer com essa pessoa depois.
Retratos - Quando sentiu que tinha estourado no Brasil todo?
Sérgio - Quando fiz novelas (duas versões de Paraíso, em 1982 e 2009, Pantanal, em 1990, e A História de Ana Raio e Zé Trovão, 1990, ambas na Manchete, O Rei do Gado, em 1996, na Globo, Canavial de Paixões, no SBT, em 2003, e Bicho do Mato, em 2006, na Record.) Pantanal foi muito forte, e O Rei do Gado (foto abaixo, com Almir Sater)também. A novela das oito da Globo foi impactante demais. Mas não pretendo mais fazer.
Retratos - Como está de saúde (em 2014, ficou internado, após sofrer uma taquicardia e, em 2009, colocou um stent)?
Sérgio - Bem! Fiz a última cirurgia para catarata e estou muito bem!
<TITULO COLUNA 1>Colecionador de sucessos
- Começou sua carreira com sucessos da Jovem Guarda, como a autoral Coração de Papel, em 1966.
- Depois, engatou sucessos como Menino da Gaita, Menino da Porteira, Panela Velha e Pinga ni Mim.
- Em 2003, gravou o primeiro DVD, Sérgio Reis e Filhos - Violas e Violeiros, com seus herdeiros, Marco, 44 anos e Paulo, 39.
- Em 2010, gravou a primeira edição do CD e DVD Amizade Sincera, com Renato Teixeira. Amizade Sincera 2 (R$ 40, o DVD e R$ 30, o CD) saiu no ano passado.
- Atualmente, Sérgio é deputado federal em primeiro mandato por São Paulo, pelo PRB e
- Faturou o Grammy Latino 2014 na categoria melhor álbum de música sertaneja, com o álbum Questão de Tempo, pela terceira vez - ele já havia vencido em 2000 e 2009.
Crédito: Erica Mani/Divulgação
Leia mais sobre famosos e entretenimento