Golpe
Violência patrimonial: os sinais de que seu amor pode ser um picareta
Conheça o caso de uma aposentada do Bairro Rio Branco que teve prejuízo de R$ 50 mil com um ex-namorado. Vítimas podem recorrer a um serviço gratuito em Porto Alegre
Eles não agridem nem usam palavras ofensivas. Pelo contrário, são delicados e românticos, porém são homens especialistas em destruir o patrimônio daquelas que dizem amar, usando a lábia e a sedução como iscas.Em Porto Alegre, centenas de mulheres já caíram nessa armadilha, chamada violência patrimonial.Moradora do Bairro Rio Branco, uma aposentada de 52 anos sentiu na pele o quão amarga pode ser a paixão. Caiu nos encantos de um galanteador, que, aos poucos, a convenceu a fazer todas as suas vontades.Resultado: viu o coração tão vazio quanto a sua conta bancária. Casos assim acabam no Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram), na Capital, que presta ajuda psicológica e assistência social e jurídica às vítimas.
O início da relação é sempre intenso. As mulheres não percebem que estão sendo vítimas de um golpe que começa discretamente e evolui a passos largos. Pode ter início com a compra de um celular pelo qual ele se interessou, mas disse que não tinha dinheiro. Para agradá-lo, ela presenteia-o. Em casos mais graves, as parceiras chegam a abrir uma conta bancária conjunta e fazer empréstimos até que, quando se tocam, seu patrimônio já está comprometido.Com a aposentada, não foi diferente. Antes de conhecer o ex-companheiro, de 35 anos, em um bar da Capital, há um ano, ela levava uma vida tranquila e organizada financeiramente. Até conseguia guardar dinheiro, mas deixou-se levar pela paixão e sequer atentou aos sinais de que algo estranho acontecia.
Eu não sabia onde ele morava... Ele estava sempre enrolado. Tinha três números de celular, todos sem crédito. Eu dizia: "Se tu morrer, eu não tenho como ir ao teu enterro, porque eu não sei nada de ti" conta.
Sinais ignorados
O casal se via apenas nos finais de semana, e os programas a dois eram sempre bancados por ela, de viagens a compras em supermercados, sem contar os presentes que variavam de roupas de marca a peças de carros. Só em dinheiro, estima a vítima, o prejuízo chegou a R$ 50 mil.
Ele nunca pedia, mas insinuava. Dizia que estava sem dinheiro para pagar
os pedreiros da construção civil, ramo do qual ele se dizia empresário. E, assim, ia me envolvendo,lembra a aposentada, que fazia empréstimos para ajudá-lo.
Era bom estar com ele. Eu sempre deixei claro que queria ser cuidada, e ele cuidava de mim, justifica. Após seis meses juntos, o homem desapareceu. Mas, outros seis meses depois, retornou, e a aposentada voltou a se aproximar do sujeito. Até que uma briga na qual ele se mostrou agressivo acendeu o sinal de alerta e a fez procurar a polícia.
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Constrangimento
A orientação da polícia é para que as vítimas registrem o caso na Delegacia da Mulher. Mas nem sempre isso acontece.
As mulheres não querem denunciar porque isso, para elas, é uma vergonha explica a antropóloga social e coordenadora do Cram, Waleska Vasconcellos, ressaltando que auxílio psicológico também é fundamental.Há quatro meses, a aposentada tem um novo amor, um músico de 44 anos, que também conheceu em um bar. E destaca a segurança que seu novo relacionamento lhe proporciona.
Agora, eu me sinto totalmente tranquila, é uma pessoa que tem referências, eu conheço a família dele. É outra vida! comemora.
O que diz a lei
De acordo com a delegada Rosane de Oliveira, da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, não existe lei prevista para o crime de violência patrimonial. Esses casos acabam enquadrados como estelionato, e a pena pode chegar a cinco anos de prisão.Neste ano, foram registradas 9 mil ocorrências de violência contra a mulher, sendo
que 10% delas envolveram patrimônio. As vítimas costumam ser mulheres com casa própria, autonomia financeira e estabilidade econômica.
Configura-se violência patrimonial quando o companheiro usa de sedução para subtrair um bem da vítima. Ele age como um estelionatário, define a delegada.
Fique alerta
/// Ao conhecer alguém, busque referências pessoais e profissionais dele.
/// Desconfie se ele se nega a dizer onde mora ou se troca toda hora o número do celular.
/// Preocupe-se se ele pedir ou insinuar que precisa de dinheiro. Fale com algum familiar a respeito.
Procure ajuda
/// Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram), Rua dos Andradas, 1.643/3, Centro. Fone: 3289-5110. Atendimento gratuito.
/// Delegacia da Mulher (Rua Professor Freitas e Castro, 2.050, Santana).
Fone: 3288-2172.