O de comer, eu adoro. O de olhar, dói como se fosse em mim. Já reparou a quantidade de camarão na beira da praia, na fila do pão, na sorveteria, no crepe do calçadão? Sabe aqueles corpos quase em carne viva de tão vermelhos, cheios de marcas de dedos nas costas, cobertos por uma fina camada de areia? São os camarões empanados, que também vão atender se você gritar "Olha o pimentão!!"
Deixa eu explicar o drama da gaúcha branquela. Tenho a pele bem clara e sensível, o que me obrigou a desistir de tomar banho de sol. Pra me bronzear, só se eu mudar pra Bahia ou nascer de novo. Tomei muito torrão, fiz bolha, descasquei, troquei a pele feito cobra, gastei tubos de Caladryl, ganhei pintinhas nos ombros. Na adolescência, uma vez desmaiei após quarar horas no sol, no pior horário possível, toda lambuzada de óleo de Urucum (os dinossauros ainda habitavam a Terra e ninguém falava em buraco na camada de Ozônio). Pergunta se mesmo assim eu pegava uma corzinha? Nenhuma! Muita gente já deve ter me chamado de pimentão e camarão. Só nunca andei por aí empanada de areia.

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Sombra

Por causa desse branco Omo Total, tive que rever minha relação com o sol. Preciso dele pra me manter feliz, mais nada. Os raios, deixo todinhos pra quem quiser fritar a própria pele. Meu lugar ao sol é, com certeza, na sombra. Quero a energia, o céu azul, a roupa seca, a casa iluminada, as fotos bonitas. Aprendi a gostar de praia à tardinha, com o amigão já se despedindo.
Protetor é 50 o ano inteiro. Mas tem que ser forte pra assumir a brancura no verão, em meio a tantos corpos dourados. Eu de regata branca é o cúmulo da redundância. O que me consola é ter menos rugas e nem lembrar a última vez que senti a pele ardida do sol. Camarão é bem-vindo no almoço ou jantar. Chego a ficar corada de faceira.

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