Coluna da Maga
Magali Moraes: chuva de verão, a exagerada

Se no inverno ela chega de mansinho e dura dias, no verão a chuva aparece fazendo escarcéu, alaga tudo e vai embora. Já reparou como ela é dramática? Na cidade, dá o ar da graça exatamente na hora do pessoal sair pro almoço (e ninguém trouxe guarda-chuva) ou no fim do expediente pra complicar o trânsito. Na praia, ela também faz seu showzinho. Escurece o dia, se transforma em toró e faz calçada virar rio.
Nos primeiros pingos, a gente até agradece e diz "que cheiro bom de chuva!". É um alívio se livrar do calorão que fez antes. E dê-lhe comemorar, finalmente refrescou! Cinco minutos depois, tá todo mundo correndo atrás de balde e pano pra espalhar nas goteiras. Sempre tem um maldito canto onde entra água. Vento com chuva é uma combinação perigosa. Sabe o que me salvou no último aguaceiro na praia? Uma pilha de jornais dos meus vizinhos! Guarde sempre alguns porque esse truque funciona, só não vale afogar as minhas colunas na água, tá?
Poças
Quem reclama de chuva de verão é adulto, criança adora. Tenho lembranças tão boas do Imbé alagado, a minha bici passando por aquelas esquinas inundadas. Quando eu era pequena e veraneava com minha vó e primos, esses torós eram bem mais divertidos. Talvez ela ficasse espalhando panos enquanto olhávamos a chuva cair de balde lá do céu. Assim que parava, a gente se oferecia pra ir na padaria comprar pão e mumu (mentira, era pra meter as bicicletas nas poças d'água!). As canelas voltavam cheias de barro, além das marcas de graxa da correia. Até a camiseta sujava do pneu traseiro respingando água suja.
Preciso tomar um banho de chuva na próxima vez. Água que entra pelas frestas acaba secando, já as lembranças que não são alimentadas evaporam por completo. Outra coisa boa de fazer quando um toró desses te pega de jeito é não correr e seguir caminhando sem pressa, sem se abalar. De exagerada, já basta a chuva.