Coluna da Maga
Magali Moraes: fila do pão

Fui comprar pão e voltei com essa coluna. Podia ser pior, voltar com sonho de creme. Não tô podendo, viu. Dá pra dizer que escrevi minha primeira coluna na fila do pão, anotando o que surgia na frente. Passava um pedaço de frase e um salaminho no balcão. Vinham duas palavras soltas, um começo de parágrafo. E eu querendo me concentrar, enquanto uma fôrma de nega maluca tentava roubar minha atenção (tão linda, eu faria uma selfie com ela). Santo bloco de notas do celular! Enquanto eu anotava tudo, vi com o canto do olho cuecas viradas, cuca torrada, pastéis, risoles, bombinhas de chocolate, pães de queijos. Acredita que só comprei pão? Obrigada, leitores! Vocês me ajudaram a manter a linha.
Como a fila estava grande, deu tempo de deixar a coluna bem encaminhada até chegar a minha vez. Por que a gente encara fila de padaria? Ora bolas. Porque lá dentro, queimando a barriga no forno, existe um padeiro maravilhoso. Ele nos atrai a partir das 5 da tarde como se fosse um vendedor de crack.
Movimento
A fila do pão é o melhor termômetro do movimento no litoral. Às vezes aparece um desavisado, olha com revolta pro tamanho dela e diz alto: "Não vou ficar nessa fila!!" Tchauzinho, amor. Ninguém vai te segurar. Tem gente que veio direto do mar, sal grudado no cabelo e estômago colado nas costelas. Em respeito à fome deles, sem cenas de mau humor. As bicicletas estacionadas lá fora esperam pra levar a mercadoria quentinha. E quem pede 2 sacos de 20 pães cada? Ou trabalham numa pousada ou a casa está realmente cheia.
No caixa, o ambiente é familiar. Todo mundo ajudando, marido e mulher, filho, nora, neta. Ao frequentar a mesma padaria, nos tornamos próximos. E na saída, eu ainda faço aquele comentário cúmplice que separa os forasteiros dos locais: "Já aumentou o movimento, hein. É sexta, eles começam a chegar."