Há duas décadas, a pedagoga Viviane Gil Vieira, 38 anos, do Bairro Vila Augusta, em Viamão, toma conta das finanças em casa. Ela e boa parte das representantes
do sexo feminino, pois, de 2004 a 2014, subiu 71,9% o número de lares gaúchos chefiados por mulheres - o IBGE considera chefe de família quem é apontado como referência e paga a maior parte das contas. O levantamento ainda mostra que elas são mais cuidadosas com o dinheiro, como Vivi.

Casada com o serralheiro e motorista de táxi Marcelo Cardoso, 41 anos, ela cuida até
do que o marido ganha.

- O Marcelo nem vê o dinheiro dele. Recebe e dá na minha mão - conta Viviane, com o aval do companheiro, sorridente:

- Há 20 anos que eu sou coadjuvante dentro dessa casa.Foi a forma que o casal achou para driblar a crise financeira. Com luz, telefone, supermercado, combustível e os filhos, Christopher, 17 anos, e Ellen Vieira Cardoso, 10, eles chegam a gastar cerca de R$ 3,2 mil por mês.O ano que passou foi difícil para a família. As despesas cresceram, e o sinal vermelho acendeu.

- Meu filho acabou o colégio e queria fazer um curso de inglês, mas eu tive que dizer: "Por enquanto, não vai dar" - conta a comandante, que não deixou a peteca cair.Vivi passou a encarar jornada dupla: pela manhã, na escola, e, à tarde, em uma agência de viagens,o seu novo trabalho. Aliás, com a venda de pacotes para turistas, conseguiu complementar a renda familiar em mais de 40%.

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Papo reto
Mas foi preciso apertar ainda mais o orçamento doméstico. E a pedagoga entrou em ação de novo.

- Eu vou a quatro mercados para fazer as compras do mês. Não levo nada de primeira. E mudei a opção de todas as marcas de produtos de higiene - revela. A viagem com a família, que estava sendo planejada há tempo para conhecer o Rio de Janeiro, teve de ser cancelada:

- Infelizmente, temos que tomar estas decisões às vezes.Depois desse sacrifício, a supermãe conseguiu reequilibrar o orçamento familiar e, sempre que necessário, compartilha com os filhos o momento.

- Eles participam muito do que a gente adquire e das dificuldades. Então, quando eu digo que não dá, entendem por quê. E, quando é possível, a gente se esforça e tenta dar tudo na medida do possível - relata Viviane, que encontrou uma forma de não cortar o barato dos filhos na curtição:

- As festas continuam acontecendo. Mas, agora, todo mundo que entra traz 1kg disso ou daquilo. Cada um contribui com alguma coisa em todas as festas, inclusive nos aniversários.

E o maridão o que acha?

Marcelo fica até mais seguro com a supermulher que tem dentro de casa:

- Vivi tem mais cabeça, é organizada. Eu recebo e passo tudo pra ela, porque sei que o dinheiro vai pra onde tem que ir. A Vivi é uma administradora nata das finanças da família.E o melhor de tudo: administra o meu coração há 20 anos!