Coluna da Maga
Magali Moraes: cadê o saleiro que estava aqui?

Eu não paro de pensar nesse monte de saleiros dispensados pela nova lei que proíbe o clássico salzinho nas mesas de bares e restaurantes em Porto Alegre. Pra onde irão todos esses vidros? Pro lixo seco? Serão vendidos pra restaurantes e bares de outras cidades, perdendo o sotaque e as raízes? Vão virar miniaturas de vaso? Muitos estão marcados com aquele "S" de furinhos na tampa, nasceram pra serem saleiros, não podem mudar de ramo e te oferecer pimenta ou açúcar. Entendeu o drama? Afastados do convívio social, demitidos sem piedade, aposentados prematuramente, levando a culpa. Porque quem faz mal é o sal, não o saleiro.
Quantos casais os saleiros já ajudaram a aproximar em momentos de briga? Depois de um silêncio no ar que daria pra cortar com a faca, um deles diz "Me passa o sal..." e já emenda um "...amorzinho?" Tem saleiros que trabalharam a vida toda no mesmo restaurante, viram os clientes terem filhos e netos e bisnetos. Cantaram junto o parabéns nos aniversários em família. Ouviram tantas conversas sigilosas e nunca fizeram fofoca.
Palito de dente
Os entendidos vão dizer que o sal mata, que se essa lei fosse na Islândia todo mundo aplaudiria, que a culpa é do pré-sal, que nem o sal grosso seria tão insensível de propor uma lei assim. Mas e os saleiros que a gente tem em casa? Como lidar? E parece que a bandidagem solta nas ruas vem matando bem mais em Porto Alegre ultimamente.
Já que os vereadores gostam de polemizar, então que façam uma lei proibindo o uso de palito de dente. Disfarçar colocando a mão na frente da boca só piora o faxinão. Quem assiste de longe fica imaginando o pedaço enorme de boi sendo retirado lá de dentro. Por acaso alguém sente nojo ao ver uma pessoa colocando educadamente o sal na salada? Meu Deus! E o azeite de oliva, como vai sobreviver sem o parceiro de mesa? Abaixo o palito de dente! Volta, saleiro!