Ainda vai levar um tempo, como diria Lulu Santos. Porto Alegre tomou uma surra daquelas com a tempestade de sexta passada, e meu bairro foi um dos que mais apanharam. Que triste ver tantas árvores caídas no Menino Deus. Que medo a maçaroca de fios soltos no chão. Até postes de luz tombaram feito árvore. E a correria atrás de vela e água, que logo terminaram? Prateleiras vazias nos supermercados e também nas geladeiras (calcula o desperdício de tanta comida indo pro lixo).

Eu estava na praia sexta à noite por causa do Planeta e só previa o estrago nos filhos. Descobri que a gente se assusta do mesmo jeito acompanhando um temporal à distância, sem saber se as janelas ainda estão no lugar. Depois de ver os vídeos e ler os relatos que todo mundo compartilhava nas redes sociais, decidimos antecipar a volta. Por sorte, nosso prejuízo foi mínimo (uma persiana quebrada).

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Zumbis de tomada

Enquanto escrevo, desejo fortemente que a luz e a água tenham voltado em todos os bairros até a coluna ser publicada quarta. A bateria do computador está nas últimas. Se normalmente já parecemos zumbis de tomada, sempre sugando energia, imagina numa situação dessas. Lá fora, segue o barulho de motosserra. Sinal de que estão removendo as árvores! Aqui dentro, olha o cenário: Toddynho e Polenghinho pro café da manhã, copos descartáveis pra sujar o mínimo de louça, banho e janta na mãe, álcool gel e lencinhos umedecidos pra tapear, além de paciência e bom humor.

Dói ao pensar nos hospitais e ainda não tive coragem de espiar o que sobrou do Parque Marinha. Sabe o que achei lindo de ver? Voluntários ajudando e o pessoal com água e luz oferecendo suas casas pra quem precisava recarregar celular, comer, tomar banho, saber das notícias. Ninguém está preparado pra se  privar do que é básico. Mas e quem vive essas privações no dia a dia e nem lembra mais o que é ter conforto?

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