Elas poderiam trabalhar em um circo, ganhar fama e fortuna, viajar pelo mundo. Elas conseguem colocar o calcanhar no ombro. Enroscam a perna ao redor do cotovelo. Entortam o braço até virar do avesso. Elas são as roupas contorcionistas e se apresentam todas as noites no cesto de roupa suja. Ganham apenas uma medida de sabão em pó e amaciante. Na verdade, essas roupas exibem toda a sua flexibilidade em qualquer lugar onde foram esquecidas: em cima da cama, atrás da porta do banheiro, embaixo da cômoda, no chão da área de serviço. É só na minha casa que isso acontece? Vou botar roupa na máquina e levo um susto ao ver o estado das coitadas. Como a água vai chegar até o tecido e limpar algo? É a meia que volta imunda do futebol e vai parar (enrolada, claro) dentro da camiseta. É a maçaroca de cueca escondida na perna do jeans. É a manga de camisa que dá um nó nas costas. Mas quem se curva mesmo é a gente, desvirando essa bagunça e acabando com a lombar.

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Arte moderna

Algumas dessas roupas vão escapar do nosso radar e serão lavadas no estado de contorcionismo total, ficando ainda mais amarfanhadas. Pior: correm o risco de serem penduradas no varal mantendo a posição circense. E o prendedor que segure as pontas. Como alongar tanto tecido retorcido? Se o ferro pudesse falar, ele diria "me deixa fora dessa, pensa na conta da luz e estica tudo com a mão". A outra opção é encarar essas roupas como peças de arte moderna (daquelas que ninguém entende mesmo) e fazer uma exposição entre as vizinhas pra ver quem tem a coleção mais bonita. Melhor não, e o cheiro de roupa suja? Dei um Google e encontrei dicas práticas de como virar contorcionista. Melhor não, e a dor no nervo ciático? Achei também a russa Zlata, que é considerada a mulher mais flexível do mundo. Vou ter que discordar! Flexível somos nós, que nos desdobramos em mil pra dar conta do recado.

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