Coluna da Maga
Magali Moraes: o restinho de água na jarra

O que é mais irritante? Abrir a geladeira e encontrar a jarra totalmente vazia ou com um mísero restinho de água? O restinho, com certeza! Ah, juro que sim. Porque esse restinho não enche um copo, não mata a sede e transborda a minha paciência. Só serve pra molhar vasinho de violeta, mas quem vai fazer isso com água filtrada? Se você provar esse restinho, vai sentir gosto de deboche. Ou quem sabe de indiferença. Já cansei de pedir pra encher a jarra. Em 92,7% das vezes, eu caminho resignada até o filtro e faço isso. Enquanto dou quatro ou cinco passos na cozinha, fico pensando se é TOC e tenho que me tratar. Ou se aprontei horrores em vidas passadas, como sambar com sandália de prata na Santa Ceia ou algo assim.
Por isso comunico, através dessa coluna e com todos os meus amados leitores de testemunha, que a partir de hoje vou ignorar a jarra. Eu consigo viver sem água gelada numa boa. Se depender de mim, o restinho vai continuar lá até criar musgo. Essa coluna é sobre rasgar o meu papel de trouxa e mudar de comportamento da água pro vinho. Tinto, de preferência. Não quero todos lá em casa morrendo de sede. Apenas uma pessoa. Ele deve estar lendo essa coluna e dando risada. Maldita risada linda.
Gentileza
Outros restinhos que também me tiram do sério: de sabonete e de papel higiênico. Como pode sair do banho e deixar à disposição do próximo vivente um cotoco de sabonete que não dá nem pra lavar o dedão do pé? Por que deixar no rolo só 10cm de papel que mal secam uma lágrima? Reposição é gentileza. E você sabe, gentileza gera gentileza.
Repare que as minhas reclamações são necessidades básicas. Estou tentando sobreviver nessa nave louca chamada vida. Lembrei agora do restinho na jarra (pausa pra respirar fuuuuundo). Posso tomar um longo e gostoso banho com o cotoco de sabonete. Posso me virar com 10cm de papel higiênico. O restinho de água, eu não aceito mais.