Coluna da Maga
Magali Moraes: Porto Alegre é demais?
Sábado foi o aniversário de Porto Alegre. Posso ser sincera? Não tenho vontade de comemorar. Por mais que eu tente, minhas mãos não se aproximam pra bater palmas, minha boca não consegue cantar parabéns, a voz some de repente, não tenho forças pra encher balão e sorrir. Teve bolo e velinha? Não senti o gosto, mas fiz desejos. Talvez eu precise subir no ônibus turístico que passeia pela cidade, fingindo falar outra língua e me fazendo de forasteira, pra ver se enxergo com outros olhos. Uma esquina charmosinha, vá lá. Um centro cultural recém inaugurado. Um bairro onde dá pra caminhar tranquilamente e não assaltam à luz do dia. Onde adolescentes não apanham a dois passos de casa. Uma avenida simpática com floriculturas, restaurantes e guardas em cada esquina. E onde cadeirantes não precisam andar no meio da rua, de tão tinhosas que estão nossas calçadas. Como esquecer as 3 mil árvores que perdemos em janeiro? Se todos os Ipês florirem sem parar daqui pra frente, será que melhora?
Europeus
Foi-se o tempo em que a gente enchia a boca pra dizer que mora em Porto Alegre. Que nos apavorávamos com o trânsito caótico de São Paulo. Melhor enfiar a bomba de chimarrão na boca e ficar quietinho. Sabe aquele papo de que somos do sul, europeus, diferentões, intelectuais? Tem que rever isso daí. Com tanto bandido solto nas ruas, lixo espalhado, mendigos e pedintes, não sobra espaço pra glamour. Dá pra se sentir europeu com museus fechando? E pedestres tentando atravessar a rua e ninguém parando? Mas essa coluna é sobre aniversário. Quero voltar a ter orgulho da minha Porto Alegre. Elogiar os serviços, a segurança, os bairros revitalizados, o transporte, as hortas comunitárias, os exemplos que ainda podemos ser. Partiu fazer dessa cidade um lugar incrível pra morar? Nem que seja em consideração ao pôr do sol do Guaíba. Sozinho, o coitado não faz milagre.