Retratos da Fama
Não e só Joaquina: confira as heroínas do Brasil que foram parar na telinha
Anita Garibaldi, Xica da Silva e Chiquinha Gonzaga marcaram suas épocas e foram retratadas em minissérie e novelas, difundindo a história do país
Com a estreia de Liberdade, Liberdade, nesta semana, o país acompanha na telinha uma das épocas mais marcantes da sua história: o período da Inconfidência Mineira, capitaneado por Tiradentes (Thiago Lacerda). Só que, desta vez, a trama é contada a partir de outra óptica, a de Joaquina (Andreia Horta), filha do líder do movimento, que já nos idos do século 18, defendia com unhas e dentes os direitos das mulheres.
A dramaturgia vem resgatando com significativo destaque, nos últimos anos, momentos importantes da história dando voz e vez a heroínas como Anita Garibaldi, Xica da Silva e Chiquinha Gonzaga. Relembre a força de guerreiras históricas, que mudaram não só as suas vidas, mas as de milhões de brasileiros, mostrando o poder das mulheres ao longo dos tempos.
Uma pós-feminista
Por muitos anos, nas escolas e na literatura, já se falou - e segue se falando - muito de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira, entre o fim do século 18 e o início do 19. Porém, até hoje, não existem muitos registros que contem a vida de sua filha, Joaquina, e o que teria acontecido com ela após a morte do pai, trama que norteia Liberdade, Liberdade.
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Na novela das 23h, cabe a Andreia Horta o papel de apresentar a história adaptada à tevê dessa mulher que poucos brasileiros conhecem. Mineira de Juiz de Fora, a atriz precisou fazer aulas de tiro e esgrima.
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Na telinha, ela aparece de peruca, dentes amarelados, unhas por fazer e pelos nas axilas (um adesivo dá essa aparência), como as mulheres da época.
- Pouco se sabe da verdadeira história de Joaquina. Se derem um Google no nome dela, vão parar no seu registro de nascimento. Para compor, fui buscar o que as mulheres daquela época pensavam. Por ter sido há 200 anos, esse papel me leva a descontaminar o sentido das palavras justiça e liberdade. Joaquina é uma pós-feminista, que defende a justiça sem levantar bandeiras - contou Andreia, na coletiva de imprensa da novela.
Uma lição de vida
Ela vive Joaquina na fase adulta, uma patriota que luta por um Brasil melhor quando nossas terras ainda eram colônia de Portugal. Ao deparar com as mazelas sofridas pelos compatriotas, não pensa duas vezes para sair em luta por independência.
- Ela clama por coisas que já deveriam estar estabelecidas no coração de quem governa. Tem um discurso que ainda precisa ser ouvido com muita atenção. Que mulher linda e íntegra que ela é! Passo 12 horas por dia brigando pelo que ela acredita, afirmando suas posições de igualdade. Joaquina é uma lição, só me engrandece - afirma Andreia.
Crédito: Divulgação/ TV Globo
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Quem foi
A descendência de Tiradentes é controversa, pois há poucas provas documentais. Ele nunca se casou e teve uma relação amorosa com Antônia Maria do Espírito Santo, mãe de Joaquina, que teria nascido por volta de 1786. Uma das principais obras sobre Joaquina, o livro Joaquina - Filho de Tiradentes - em uma versão romanceada, relata que, após a morte do seu pai, ela teve todo seu futuro desgraçado por conta de ser filha do Alferes, o pai da Inconfidência. É tida como figura importante nos direitos das mulheres da época e teria morrido perto de 1840.
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A duras penas
Crédito: Luiz Silva/Divulgação
Sucesso da telinha em 2003, a minissérie A Casa Das Sete Mulheres, gravada no Rio Grande do Sul, tinha como pano de fundo a Revolução Farroupilha, no século 19, e trouxe à tona uma mulher importante na história do país: Anita Garibaldi (Giovanna Antonelli).
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Para o site da revista Minha Novela, Giovanna revelou que esse foi o papel mais desafiador.
- Considero o mais difícil e sofrido da minha carreira. Desgaste físico e emocional. Tenho um pouco de trauma deste trabalho (risos). O bom é que tudo passa... Mas o resultado foi belíssimo - disse.
Em entrevista a Retratos da Fama, em 2003, Giovanna qualificou Anita como "uma mulher muito forte, revolucionária, libertária, cheia de ideais, à frente dos tempos e determinada":
- Ela teve uma história muito bonita de vida, que serve de exemplo até hoje para todos nós, especialmente para as mulheres.
Giovanna comentou, ainda, que a personagem a ajudou a conhecer mais a Revolução Farroupilha.
- A fundo mesmo foi com o trabalho na minissérie, que trouxe para a gente muita informação bacana sobre essa parte da história do Brasil - afirmou.
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Quem foi
Nascida em Laguna, Santa Catarina, em 1821, Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, que ficou conhecida como Anita Garibaldi, conheceu Giuseppe Garibaldi em 1837, com a Revolução Farroupilha já em curso. Na época, era casada, mas se apaixonou por Giuseppe, deixando o antigo marido. Mesmo tendo morrido jovem - aos 27 anos, em 1849 - entrou para a história como heroína, por ter morrido pela união da Itália e por ter muita fibra em um período no qual a mulher deveria ser obediente e acanhada.
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Com 17 aninhos, mobilizou o país
Sucesso de audiência na extinta TV Manchete entre 1996 e 1997 - e reprisada pelo SBT em 2005- a novela Xica da Silva marcou época. A trama, além de um forte apelo sexual, contou a história de uma das mulheres mais guerreiras da história do país, vivida por Taís Araújo - no cinema, em 1976, interpretada por Zezé Motta.
Xica da Silva foi uma negra atrevida e muito inteligente, que conseguiu a independência ao se casar com o homem mais rico do Brasil Colônia, no século XVIII, e virou rainha em Minas Gerais, escandalizando a sociedade da época. Em 1998, Taís recebeu o Troféu Imprensa do SBT, das mãos de Silvio Santos, pela atuação. Na época, a atriz era uma iniciante, com 19 anos, subiu tímida no palco e teve sua interpretação elogiada pelo dono do SBT.
- Foi muito difícil para todo mundo, mas valeu a pena_ afirmou Taís, na época.
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Para o site IG, em 2010, a talentosa falou que a repercussão da novela ainda a impressionava:
- Xica da Silva foi tão legal, todo mundo ama a novela, as pessoas do mundo inteiro entram no Facebook e falam. Ela é uma referência, muito forte, ficou no imaginário das pessoas.
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Quem foi:
Francisca da Silva de Oliveira, a Chica da Silva, nasceu em Minas Gerais, entre 1731 e 1732. Foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina.
Foi casada com um rico contratador de diamantes, e, segundo a historiadora Júnia Furtado, alinhada aos ideais da época dela, difundindo a ideia de que o envolvimento com homens ricos e brancos era o meio para que as negras e escravas chegassem à alta sociedade. Morreu em 1796 e foi enterrada no cemitério da Igreja de São Francisco e Assis, que era privilégio dos brancos ricos, mostrando sua importância e relevância na época.
Crédito: Divulgação
"Admirável"
Minissérie exibida na TV Globo, entre janeiro e março de 1999, Chiquinha Gonzaga contava a história de uma das mulheres mais fortes de sua época, no século 19. A personagem era uma musicista revolucionária, filha alforriada de uma escrava mestiça, republicana e abolicionista, que desafiou a sociedade da época com sua postura, sua arte e seus amores.
A trama é narrada em duas fases: o papel é vivido por Gabriela Duarte, na primeira, e por Regina Duarte, na segunda. Em 2012, quando completou 50 anos de carreira, Regina destacou, em entrevista ao Canal Viva, que Chiquinha estava à frente do seu tempo e que participou ativamente de mudanças do Brasil:
- Ela fez a música brasileira, participou das manifestações, das mudanças musicais e da vida política. É uma mulher admirável.
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Quem foi:
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17 de outubro de 1847, no Rio de Janeiro. Foi compositora e maestrina de sucesso, numa época em que mulher não tinha profissão e ajudou a definir os rumos da música brasileira.
Ficou reconhecida, também, por ter atuado em diversos segmentos da sociedade patriarcal na qual viveu, tornando-se pioneira na defesa dos direitos autorais de músicos e autores teatrais. Deixou uma obra estimada em cerca de duas mil canções e 77 partituras para peças teatrais, de acordo com sua biografia, escrita por Edinha Diniz, maior do que qualquer compositor de seu tempo.
Chiquinha compôs, ainda, a primeira marcha carnavalesca, o clássico Ô Abre Alas, em 1899. Faleceu em 1935, aos 87 anos.
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O povo agradece
Professor da Puc e historiador, Juremir Machado da Silva acredita que contar momentos importantes da história do país pela óptica de uma mulher forte é interessante:
- É uma mudança de ponto de vista que pode produzir efeitos reais de narração. É o que acontece em A Casa Das Sete Mulheres. Em literatura, ou se conta algo novo, ou se usa uma forma nova, ou se muda o ponto de vista.
Juremir afirma ainda que as produções históricas contribuem para que mais pessoas tenham acesso à informação:
- As adaptações podem ser ótimos instrumentos de popularização da história. O problema é quando adulteram o passado, atribuindo a personagens o que eles não fizeram nem poderiam ter feito. Mas a ficção tem todos os direitos, e não há como cerceá-la.
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