Coluna da Maga
O segredo do século pra ficar quentinho
Quando a temperatura cai, o bom gosto tropeça feio. Por fora, tá todo mundo bonitão e bem-vestido. Por baixo da roupa, socorro! É um salve-se quem puder. Vale tudo pra se aquecer. Meia listrada de vermelho e roxo que nunca pisaria num desfile de moda, mas que deixa o pé num fogão à lenha imaginário. Básica com a gola desbeiçada e curta demais, discretamente coberta por um blusão fashion. Camiseta com buraco de traça e uma frase ridícula ("Fofa & Sexy") por baixo do vestido chique. Meia-calça de lã rasgada no joelho, camuflada embaixo do jeans. Camisa de flanela apertada e faltando botão, soterrada pela jaqueta fechada até o gogó. Calça de moletom usada à la cuecão.
Eu chamo isso de roupa de mendigo. Se existisse um raio-x pra analisar essas camadas subterrâneas duvidosas, não passava ninguém. Manter a dignidade e congelar? Nenhum ar condicionado ou estufa funcionam tão bem como a roupa de mendigo. É o look perfeito pra ficar em casa. Chinelo de dedo com meia grossa (enfiada por cima do abrigo). Cobertorzinho velho pra se enrolar feito echarpe. Moletom enorme com os punhos sobrando pra enfiar um braço dentro do outro e ser feliz.
Sarampo pra fora
Roupa de mendigo só complica a vida quando esquenta ao meio-dia e não dá pra arrancar tudo. A temperatura sobe, o pescoço pinica, o corpo coça. Aguente firme porque as pessoas ao redor não são obrigadas a ver sua camiseta "Fora Collor". Reze pra não precisar tirar as botas e mostrar ao mundo sua meia verde de bolinha. Nem é pelo furo no dedão, é pela combinação de nada com coisa nenhuma. Meu conselho? Bote o sarampo pra fora, mas não tire as botas!
Décadas atrás, eu cortei ao meio uma manta de tricô colorida e transformei cada metade num rico meião gigante. Na época não perdi o namorado, se bem que ele reclama até hoje quando eu durmo de meia. Aceitar a roupa de mendigo é uma prova de amor. Só de vez em quando, vai.