Coluna da Maga
A conta, por favor
A comilança começa na porta do restaurante, esperando mesa. Alguém se oferece pra ir lá dentro e volta com belisquetes do buffet pra distrair o estômago. Depois que a turma senta, chegam os pãezinhos e a manteiguinha esperta do couvert. A conversa embala e fica como a carne: no ponto, suculenta. Dá tempo de falar de tudo, de todos, até de quem não veio. Um garfo cai, um copo vira, um corpo remexe na cadeira e abre o botão da calça. O garçom traz mais uma porção de fritas. Ouvi polentinha? Ainda tem sobremesa porque, né, faz parte. E os brindes! Alguém pede um chopp de saideira. Os outros se jogam no café. O restaurante esvaziou. Não dá mais pra adiar. É o momento derradeiro de pedir a conta. La dolorosa, para os íntimos.
Vai dizer que nessa hora não bate um arrependimento? Quem mandou comer tanto! Conferimos cada item torcendo pra achar erro. Um refri a mais, que seja. Por melhor que a gente tenha comido e bebido, parece que a conta não fecha. O valor total é mais conhecido como TUDO ISSO??? Com esse dinheiro, dá pra comer 3x em casa. Agora é tarde. Quer moleza? Senta no pudim. Opa, o garçom já recolheu.
Calculadora
Está cada vez mais caro comer fora. É pagar ou ser gentilmente convidado a visitar a pia da cozinha. A conta é entregue nas mãos de quem tem mais cara de rico. O garçom usa sua intuição pra garantir os 10%. Então começa a lambança. Cadê a calculadora? Divide por cabeça ou separa o que cada um pediu? Aceita VR? Cupom de desconto? Cheque pré? Parcela em 8x no cartão Renner?
Cresci ouvindo a mesma piada do meu pai: "Querem comer fora? Levem a mesa pra sacada!". Até hoje adoro ir a restaurante, mas dói na hora de pagar. Depois de lamber os beiços e encher a pança, óbvio. Pode ser em lugar chique ou boteco, o que não muda é aquele gesto de escrever no ar pra pedir a dolorosa. Sabe o que todo mundo escreve de verdade? Traz a conta e tenha piedade de nós.