Nem a minha rinite crônica atrapalha esse momento. Lá pelas cinco da tarde, um cheiro indecente de torrada feita na hora invade o ar. É impossível se concentrar. Consigo sentir o gosto do queijo derretido coladinho no presunto. Eu poderia raspar cada casquinha que sobrou na torradeira. Como trabalhar se o meu cérebro só pensa em roubar o lanche dos colegas? Será que eles passaram requeijão?

Eu deveria estar sem fome. Nessa hora já comi uma maçã sem graça, um mamão ok, bolachinhas sem gosto ou uma barrinha básica. Mas desde quando a gula obedece alguém? O Ministério do Trabalho deveria proibir a fabricação de torradas no horário comercial. Cheguei a uma conclusão: dois pães de forma com presunto e queijo são inofensivos na temperatura ambiente. O perigo é quando a chapa esquenta. Por que eu não faço um sanduba e também boto na torradeira ligada? Boa pergunta. Talvez o meu cérebro esteja programado pra comer esse tipo de gostosura em casa, não no trabalho. A outra alternativa é gostar de sofrer.

Pedra com molho

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Lembrei agora do tempo em que eu veraneava no Imbé com meus pais e irmãos. Nossa casa ficava longe do mar umas 20 quadras. A volta da praia era uma verdadeira tortura. Cansados, a pé, carregando cadeira, guarda-sol e sentindo o cheiro do almoço dos outros. Domingo era pior, um perfume único de churrasco por toda parte. Parecia que o planeta já estava sentado na mesa, menos nós. Nem precisa dizer que a gente chegava desesperado e comia até pedra com molho (antes tinha que tomar banho, e aí o estômago grudava nas costas).

Todos os dias eu atravesso a cidade pra almoçar em casa com meus filhos. E quando a porta do elevador abre no nosso andar, dá pra sentir no corredor o cheiro da comida da Dodô. Jesus me abana!!! Dia de galinha no forno é coisa de louco, qualquer hora aparece um vizinho pra filar a boia. Já sei, vou levar essa galinha assada de lanche e me vingar.