Coluna da Maga
O lanche coletivo
Foi uma frase que eu já ouvi tantas vezes: "mãe, tem que levar algo pro lanche coletivo". Era decidir rapidinho entre doce ou salgado e resolver o assunto. Agora deu vontade de demorar pra curtir o momento. Lembrei de outros lanches coletivos, dos passeios da turma, a camiseta imunda do uniforme, os bilhetes na agenda, a mochila pesada de cadernos (com uma banana esmagada lá dentro), as reuniões com professores, a expectativa para as férias, as voltas às aulas, os lápis sem ponta. Bateu saudade antecipada disso tudo, acredita? Fui atropelada pela nostalgia e não anotei a placa.
Ano que vem, meu filho caçula termina o colégio. O mais velho já saiu, mas eu ainda não senti a diferença porque sigo na rotina escolar. Mais de uma década de recreios, joelhos ralados, cabelos suados, trabalhos em grupo, provas, boletins. Quem tem filhos nessa fase sabe o quanto a gente se envolve, reclama, reza, briga, se emociona, aprende junto, sofre, comemora as conquistas. E se esse for o último lanche coletivo? Tem uma certa ingenuidade ainda levar algo gostoso de casa pra dividir com os amigos. No terceirão, o foco vai ser individual. Enem, vestibular, pressão, futuro.
Caronas e conversas
Não vou sentir saudade de mandar meu filho estudar (será que não?), nem de perder o sábado na festa junina ou de inventar maquete com lixo seco (juro que não). Em compensação, vou estranhar não repetir mais o trajeto casa-colégio-casa, as caronas e conversas só nossas.
O que sei é que eu vou trancafiar no coração (e jogar a chave fora) as apresentações de Dia das Mães, as músicas cantadas, os cartões e presentinhos feitos por eles, as minhas caras de choro. E prometo cuidar pra que as fotos da turma, tiradas ano após ano com todos enfileirados e sempre alguém de olho fechado, nunca se percam em uma gaveta. Por tudo isso, escolhi mandar doce pro lanche coletivo. Achei que combina mais com essas lembranças.