Coluna da Maga
O vendedor de balas
Ele não sabe meu nome e nem eu o dele. Qualquer hora dessas, vou perguntar. A gente tem se encontrado seguido. O homem que vende balas de goma está sempre na última esquina a caminho do meu trabalho. Eu desconfio que ele tem o controle remoto da sinaleira porque o sinal sempre fecha e me sinto na obrigação de comprar bala. No começo eu fiz que não vi, daí ele escolheu outro carro. Um dia, abri o vidro e comprei. É que ele franziu a testa de um jeito que me entristeceu. Suas roupas são boas. Ele tem cara de quem faz bicos pra sobreviver. O que aconteceu com esse homem? Deduzir que perdeu o emprego é simplificar demais uma história de vida. Eu queria puxar papo e fazer perguntas, mas não dá pra conversar direito em poucos segundos de sinal fechado. Imagina se acende a luz verde na melhor parte, vou trancar todo o trânsito até ele acabar de contar.
Já paguei 2,00 o pacotinho de balas. Negociei pra 1,00. Não tive coragem de oferecer 0,50. Já menti que estava sem troco. E se a testa franzida desse homem for só uma técnica de venda? E se ele gastar o dinheiro em drogas? E se não tiver comida pra dar aos filhos? E se for um policial à paisana querendo prender um chefão do tráfico e eu faço parte do disfarce? Ou ele é um detetive observando o casalzinho suspeito no prédio em frente? E se o nosso coração já endureceu o suficiente pra não ajudar quem precisa?
O vendedor de bolas
Prefiro encontrar no meu caminho o vendedor de bolas. Aquelas bem grandes e coloridas, sabe? Presas numa rede amarrada ao poste, perto de escolas e praças. Armadilha pra chamar a atenção das crianças, oásis pra descansar os olhos de ver tanta tristeza nas ruas.
Essa é uma cena que me faz bem. Dá vontade de brincar, apesar de ali também existir uma necessidade. Ele parece menos desesperado, deve ser porque vende alegria. Vou propor ao vendedor de balas pra fazer ponto com o vendedor de bolas. Vai ser melhor pra todo mundo.