O pimentão vermelho me encarou e disse: "mãos ao alto!!" Não consegui me mexer, eu já estava sem reação na frente da etiqueta de preço: 21,90 o quilo!! Como levantar as mãos se a direita segurava os tomates e laranjas, e a esquerda carregava o melão? Ninguém ao redor percebeu o assalto. Todos seguiram escolhendo suas batatas. Então querem bater a minha carteira antes mesmo de eu chegar no caixa? Dei um passo pra trás e me senti cercada. Lá estava o pimentão amarelo com o mesmo preço ameaçador. Fui de uma etiqueta à outra, sem acreditar. 21,90 o quilo!! Se pimentão cheio de agrotóxico tá salgado assim, imagina o orgânico.

Não comprei, óbvio. Por acaso esse ladrãozinho foi plantado em um reino encantado e colhido por um príncipe montado num cavalo branco? Fiquei indignada, depois desorientada. E agora? Na minha família, pimentão é que nem cebola. A gente come em tudo e quase não come cebola. Quanto mais, melhor. Do verde (que também tá caro), do vermelho, do amarelo. Vamos fazer greve de pimentão até esse preço tomar vergonha na cara.

Milionária

Cheguei em casa ainda traumatizada do assalto e comecei a guardar as compras. Já estava pensando como contar ao pessoal que tão cedo eles não iam enxergar pimentão na frente. Quando abri a gaveta das verduras, me senti milionária. Encontrei metade de um pimentão vermelho e metade de um amarelo que haviam sobrado. Melhor que achar dinheiro no bolso da calça! Daí veio a dúvida. Alegrar o estômago cozinhando esses pimentões (bem picadinhos pra render muitos pratos)? Ou alegrar a conta bancária, vendendo essas belezuras e guardando a grana pra aposentadoria?

Ainda não decidi. Preciso monitorar a cotação do pimentão no mercado. Por enquanto, eles estão bem escondidos num compartimento secreto da geladeira (ah se eu tivesse um cofre). Vou esfriar a cabeça. Só consigo imaginar deliciosos e fumegantes pimentões recheados.