Coluna da Maga
Pessoas que não dividem o elevador
Às vezes, não dá mesmo. O elevador lota e não cabe mais um fio de cabelo (o que dirá a pessoa inteira). O vizinho desce com o lixo de todo o final de semana. A vizinha sobe com as crianças, mochilas da escola, bicicleta e patinete. Alguém traz o carrinho cheio de sacolas e tralhas da praia. Outros entregam móveis. Tem cachorro dentro do elevador e a vizinha medrosa decide que é mais seguro pegar o próximo (instinto de sobrevivência).
Mas e quando não tem nada disso? Você está esperando na frente do elevador. De repente, chega um vizinho que prefere subir sozinho, no elevador ao lado. Os dois vão fazer o mesmo caminho. Você quer ser simpático, pensa em economizar energia e dá uma indireta: "ó, esse já chegou". Daí o cidadão desconversa, faz pouco caso da sua companhia. "Deixa... vou nesse aqui". O que acontece? Sentimento de rejeição! Você pensa que o desodorante venceu, que pisou onde não devia, que só sabe perguntar se vai chover, que tem mau hálito. Talvez esse vizinho seja apenas um lobo solitário. Um tímido que evita interagir. Se cumprimentar, já é lucro.
Pinga-pinga
Eu moro e trabalho em prédios com vários elevadores. Em casa são 6, três pra cada torre. No trabalho, mais 3. Eu poderia escrever um tratado sobre esse convívio social forçado. Por que alguns seguram a porta e outros apertam rapidinho o botão pra ela fechar? Por que vizinho chato faz o elevador andar em câmera lenta e se é vizinho querido mal dá tempo de falar? Existem pessoas que não dividem o elevador, é só o que posso afirmar.
Em prédio comercial, a rejeição é ao contrário. Cabe todo mundo, menos você. A hora do almoço é um martírio. Os esfomeados querem invadir o elevador. Quem já entrou dá as costas, o silêncio é disfarçado pelas barrigas roncando. Espera o próximo pinga-pinga. O elevador vem lotado de novo. Melhor descer de escada. Ela sempre tem lugar sobrando, tadinha. É rejeitada por todos.