Coluna da Maga
De chambre na rua
Quando eu vejo essa cena, já começo bem o dia. Que vontade de parar pra conversar com esse rebelde sem causa, com a calça do pijama aparecendo. O chambre nunca cobre tudo, é a pontinha do iceberg. Olhe para os pés do cidadão e você vai encontrar chinelos. Quem sai assim na rua tem personalidade forte. A mensagem é clara: vão cuidar das suas vidas! Essa pessoa não está nem aí para o que os outros vão dizer. Saiu de casa do jeito que se sente confortável (e apresentável). Podia ter saído só de pijama. A gente também vê isso nas redondezas.
Geralmente é de manhã cedo e em dia de semana. Se bem que o sábado é perfeito pra levar o chambre pra passear. Será que a intenção era dar uma fugidinha rápida até o portão pra pegar a correspondência? Duvido. Quem ultrapassa o limite da porta de casa usando chambre tem ousadia o suficiente pra ir até a esquina comprar jornal (o DG, óbvio). No caminho, encontra um vizinho, fala sobre o tempo, o time e engata uma conversa. O sol subiu alto e a pessoa segue de papo e de chambre, sem se abalar. A rua é a continuação do seu pátio, a calçada é sala de estar.
Roupa de quarto
O chambre véio de guerra vem do francês "robe de chambre" (puxe o R e faça biquinho pra ler em voz alta). Significa roupa de quarto. A expressão foi abrasileirada pra robe, roupão e chambre. Na internet, tem gente vendendo HOBBY de chambre. Não compre, não vai servir (hobby é passatempo em inglês, ou seja, nada a ver).
Voltando aos corajosos que desfilam de chambre pela rua. O povo da moda já inventou pijamas e camisolas pra usar até como roupa de festa. Agora chambre eu nunca vi. Desprendimento? Provocação? Puro esquecimento de se trocar antes de sair? Quero descobrir até onde o chambre circula sem dar briga na vizinhança. Vai de boas no mercadinho? É aceito na farmácia? Pega ficha especial no Correio? Preciso prestar mais atenção por aí.