Pai, eu ainda não tive coragem de reler o que escrevi depois que fui embora do hospital ano passado. Era certo que aquele seria o nosso último Dia dos Pais, por isso a necessidade de registrar o que eu estava sentindo. Peguei o bloco de notas do celular e despejei tudo ali (com a mesma dificuldade de enxergar a tela que acontece agora). Guardei pra ler nesse domingo, pai. Vai ser doído, vai ser estranho, vai ser bom. Sou novata na ausência de pai, mas não sou a única filha a comemorar uma data onde falta justamente o personagem principal. Essa carta aberta é pra ver se a saudade compartilhada pesa menos.

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Dia 24 de agosto já vai fazer um ano da tua morte, pai. Aos poucos, eu descobri que é possível seguir montando o quebra-cabeça da vida mesmo faltando uma peça importantíssima. O espaço vazio eu preencho com lembranças. Sabe o jeito que mais gosto de lembrar de ti? Do nada, de repente. Quando eu falo algo que parece ter saído da tua boca. Esses dias larguei uma frase tão tua: "eu sou uma mãe brasileira!!!". Tu vivia dizendo isso pra gente, lembra?

Imbé

Pai, eu queria te pedir um presente. Aparece nos meus sonhos. Tenho medo de esquecer a tua imagem sorrindo e falante, como era antes da doença. Aparece nem que seja rapidinho. Melhor se for o sonho inteiro, aí dá tempo de contar anedota e me abraçar. Se eu sonhar com o Imbé ajuda? Se for no meio da noite, que eu acorde pra anotar tudo.

Esse domingo também vai ser alegre, pai. Lá em casa a gente tem muito o que comemorar. Teus netos têm um pai incrível, amigo, parceiro. O Ricardo merece ser paparicado e ganhar um mundaréu de amor. Tomara que seja assim na maioria das casas, com pais e filhos realmente juntos. Esquecendo suas diferenças pra conversar, brincar, se divertir e tirar milhões de selfies. Ganhar café na cama é altamente recomendado.

Fica bem, paizinho. Eu fico aqui, te amando como sempre. Feliz dia!