Toda vez que eu sento na frente do computador pra escrever a coluna, faço questão de escolher um assunto leve que alegre o seu dia. Desculpe, mas hoje não consigo. Poderia ter sido eu aquela mãe assassinada na frente do colégio enquanto esperava o filho sair da aula, quinta passada em Porto Alegre. Dois dias antes, minha prima também foi assaltada ao meio-dia, com arma na cabeça, adivinha? Buscando o filho em outro colégio da cidade (por sorte, só roubaram o carro). Virou moda isso?

Não sei mais pra que santo rezar. Há mais de 15 anos, busco filho em colégio. Pego engarrafamento, me estresso pra conciliar horários, chego atrasada e sabe o quê? Vou sentir saudade! É um momento que cria vínculo, uma coleção valiosa de conversas. Manter esse hábito me dá orgulho. Só que eu sinto muito mais medo agora, do que no tempo em que os guris usavam aquelas cadeirinhas pra bebê no banco de trás do carro. Eu sabia que era alvo fácil pros bandidos enquanto tirava e colocava eles o mais rápido possível. Naquela época, eu sentia medo. Hoje sinto pavor. Não tem mais hora, dia ou lugar. A insegurança virou lei.

Quota de sorte

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Essa mãe vacilou esperando dentro do carro? Provavelmente. Ninguém está livre de se distrair por um minuto. Algum dia eu também posso vacilar. Quem garante que a pessoa mais paranóica do mundo nunca vai se descuidar? A polícia deveria garantir. O fato é que nós moramos em um Estado falido que segue arrotando grandeza. Sirvam nossas façanhas de exemplo pra quem mesmo?

Chegamos ao ponto de agradecer por sermos apenas assaltados. Não quero ganhar na mega sena acumulada. Prefiro usar a minha quota de sorte pra não tomar um tiro. Tomara que ela seja suficiente pra proteger a família inteira. Querido leitor, eu também me preocupo com você. Não facilita! Te cuida!! Atenção redobrada o tempo todo! Que os nossos anjos da guarda olhem por nós, já que ninguém está olhando.