Coluna da Maga
Magali Moraes sobre a polêmica do dia: "Cleo Pires e a vergonha alheia"
Você deve ter visto que a atriz Cleo Pires, embaixadora do Comitê Paralímpico Brasileiro, teve uma brilhante ideia pra ajudar a vender ingressos para os jogos que acontecem de 7 a 18 de setembro. Tirar o próprio braço por efeito de computador (o Photoshop) e interpretar a paratleta Bruna Alexandre, mostrando que #somostodosparalímpicos. Não satisfeita, ela convidou seu colega global Paulinho Vilhena pra fazer o mesmo. Ele recebeu uma perna mecânica photoshopada pra sentir na pele o que sente o paratleta Renato Leite. Jura que sentiu!!
Alguém explica pra eles que ninguém mais aceita esse tipo de falsidade? Deixa que eu explico. Sou publicitária, né. Conheço bem a vaidade por trás das grandes ideias. Cleo achou que conseguiria ter a dramaticidade necessária pra interpretar uma atleta que perdeu uma parte do corpo e, mesmo assim, se superou no esporte. Só que a Cleo tem o corpo perfeito. E nós não aguentamos mais ver ele ricamente iluminado e fotografado.
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A pergunta do milhão é a seguinte: pra que usar atores se é muito mais incrível usar os próprios paratletas? Queremos a imperfeição. Cansamos dos corpos sarados e inatingíveis. Que ideia de jerico interpretar um amputado! Faltou empatia. A Cleo deu o close errado, como se diz. Quem vai se emocionar e se identificar? Cadê a história de vida da Bruna Alexandre e do Renato Leite? Não posso acreditar que os paratletas gostaram. Pior foi o vídeo que a Cléo Pires gravou como resposta às críticas. Debochada, revirando os olhinhos. Passada e incompreendida. Não assisti até o final, odeio gente arrogante. Me disseram que ela até bateu furiosa na mesa.
Representatividade
O que aprendemos com o incidente Cleo Pires? Que não precisa ser publicitário pra reconhecer uma péssima ideia. Que não é tão fácil criar uma campanha de sucesso. Que essa polêmica não vende ingresso, só dá vergonha alheia. Que representatividade é a palavra da hora, mas tem que ser autêntica e consistente. Que nenhum ator pode roubar o brilho dos astros de verdade. Cleo foi deficiente de cérebro e de coração.
Época linda pra se viver essa de hoje, com as redes sociais. As pessoas colocam a boca no trombone, se posicionam, questionam, criticam. Sei que existe o Tribunal do Facebook, implacável e que erra feio. Mas eu acho infinitamente melhor ouvir a voz do consumidor do que conviver com o silêncio de antigamente. E não basta inventar uma hashtag pra significar alguma coisa. #somostodosparalímpicos é só uma frase de efeito. Vazia como o braço photoshopado da Cleo. A gente quer ver os paratletas se superando, apesar de todas as suas dores e cicatrizes. A gente quer se sentir pequeninho perante a grandeza deles. Chega logo, dia 7. Já pra casa, Cleo Pires.