Cinema
Novo "Ben-Hur": Rodrigo Santoro se emociona ao falar sobre cena da crucificação de Jesus Cristo
Ator brasileiro participou da première mundial do filme em São Paulo


Dois personagens icônicos, um na história do cinema e outro na sua representação impressa – e sacralizada – no imaginário de milhões de pessoas, colocam dois atores diante de um momento emblemático de suas carreiras.
Na nova versão de Ben-Hur, em cartaz a partir de 18 de agosto, coube ao britânico Jack Huston reviver o protagonista, Judah Ben-Hur, consagrado por Charlton Heston no épico de 1959 vencedor de 11 Oscar. Já o brasileiro Rodrigo Santoro encarna Jesus Cristo, que na releitura assinada pelo russo Timur Bekmambetov tem mais presença em cena do que no referencial longa dirigido por William Wyler.
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A inevitável comparação com o filme clássico e o peso de seus respectivos personagens foi um dos temas discutidos por Huston e Santoro na entrevista que concederam nesta terça-feira, em São Paulo, onde, na segunda-feira, foi realizada a première mundial de Ben-Hur. A escolha da praça para essa primeira exibição é simbólica, pela presença de Santoro no elenco e muito também pela boa receptividade que os brasileiros têm às tramas com enredor religiosos, bíblicos em especial, como mostra o imenso sucesso da novela e do filme Os 10 mandamentos.
– Cresci vendo o Ben-Hur do William Wyler. Mas essa nova versão não é um remake, é uma nova abordagem da história, que busca destacar para uma nova audiência temas contemporâneos, como as mensagens de tolerância e perdão. O filme de 1959 tem uma grandiosidade e um modelo de interpretação características da época. Charlton Heston apresentou um personagem mais viril e maduro. Agora, o meu Ben-Hur é um garoto que se transforma em homem encarando um grande e doloroso processo de amadurecimento. São filmes que se complementam – diz Huston.
Santoro destacou que a experiência de viver Jesus Cristo foi transformadora.
– É personagem simbólico para milhões de pessoas, não apenas para os cristãos. Tive uma avó italiana muito católica e sempre convivi com histórias do Menino Jesus no meu imaginário. Existem as imagens do Jesus bíblico e do Jesus histórico. Ele era loiro de olho claro ou tinha a pele morena? São milhares de teorias sobre sua existência, seus atos, suas falas, e são muitas suas descrições e representações, tanto na Bíblia quanto em livros históricos, pinturas e filmes. O que me interessou no convite para viver esse personagem que já foi tantas vezes representado no cinema foi a oportunidade de mostrar um Jesus mais humanizado e menos místico, como um exemplo de pessoa, o homem que antecede a figura do messias, do ungido, do filho de Deus – explica Santoro.
Ao falar sobre a cena da crucificação de Jesus Cristo, rodada na cidade italiana de Matera, no sul da Itália, que preserva características da época retratada, Santoro se emocionou, chegou a embargar a voz e ficar em silêncio por instantes:
– Foi uma sensação indescritível.
Assim como o clássico de 1959, o filme mudo de 1925 e a minissérie de TV de 2010, a nova produção, com orçamento de US$ 100 milhões, adapta o livro Ben-Hur: Uma história dos tempos de Cristo, lançado em 1880 pelo americano Lew Wallace. Huston e Santoro ressaltaram a atualidade de alguns temas presentes na saga de Ben-Hur, jovem nobre judeu que busca se vingar do oficial romano Messala (Toby Kebbell), que o baniu de Jerusalém e o separou de sua família sob a acusação de colaborar com insurgentes contrários à ocupação da Palestina.
Durante a jornada de Ben-Hur, que inclui cinco excruciantes anos como escravo remador de uma galé romana, ele cruza em diferentes ocasiões como o carpinteiro Jesus, que defende a resistência sem violência e se converte no revolucionário pregador perseguido pelo Império Romano.
– Vivemos tempos de ódio, atrocidades, intolerância política e religiosa. O mundo está cheio de medo. Seja católico, judeu ou muçulmano, temos de pensar mais em como sermos bons uns com os outros – afirma Huston.
Santoro complementa:
– São muitas as analogias possíveis entre uma história escrita em 1880 e os tempos que vivemos. Se antes o embate era tipo “é eu ou ele” agora estamos num processo tão violento que virou “nem eu nem ele”.
* O jornalista viajou a convite da distribuidora Paramount